Doenças e saúde

A situação do idoso fragilizado no Brasil

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A situação do idoso fragilizado no BrasilA interessante matéria abaixo, foi sugerida pelo amigo Mauricio do Twitter (@maozero). O texto foi extraído do site Portal do Envelhecimento e foi escrito por por Oscar Del Pozzo.

O idoso dependente e o idoso fragilizado constituem no Brasil o grupo mais marginalizado e excluído dentro do universo das pessoas da terceira idade.

Provavelmente, por não constituírem um grupo de pressão sobre as autoridades constituídas a nível federal, estadual e municipal não são contemplados no atendimento de suas necessidades básicas. Não por falta de leis, decretos, portarias e outras medidas. Em primeiro lugar, por não termos nenhuma pesquisa ou dados estatísticos que quantifiquem e qualifiquem a situação de dependência e fragilização. Está em curso atualmente uma pesquisa nacional sobre os idosos brasileiros feita pelo Instituto Perseu Abramo, mas ela não avaliou o número da situação dos idosos fragilizados, mesmo sendo alertados da importância de tais dados.

Não temos dados precisos, mas sabendo que o Brasil tem 185 milhões de habitantes e que os idosos constituem aproximadamente cerca de 10% da população, chegamos a um total de l8 milhões de idosos. Alguns estudos apontam que a Doença de Alzheimer atinge 7 a 8%, acreditamos que as outras doenças incapacitantes façam esse número subir para cerca de 20% ou 3 e meio milhões de idosos fragilizados.

Nos últimos 20 anos, houve uma queda acentuada nas taxas de deficiências por faixa de idade nos Estados Unidos, Inglaterra e Suécia. As deficiências podem diminuir significativamente com a prevenção (evitando as complicações das moléstias crônico-degenerativas), com a reabilitação dos portadores de deficiências específicas (aparelhos auditivos, alarmes, andadores, cadeiras de rodas, procedimentos fisioterápicos, próteses e órteses, e similares). O último componente é uma assistência domiciliar ativa e efetiva, por equipe multiprofissional.

A maioria das pessoas idosas que são portadoras de deficiências, preferem permanecer em suas casas, cuidados por familiares, cuidadores informais ou formais dos serviços de saúde e assistência social. Viver em casa até uma idade mais avançada e com a ajuda dos familiares e de outros cuidadores irá se tornar cada vez mais comum. Vantagens para o idoso, sua família e para o sistema de saúde, desonerado de custosas e desnecessárias internações institucionais ou hospitalares. Uma solução mais humana, simples e barata. Apesar de todos esses argumentos, nada ou quase nada foi feito até hoje.

Será que as nossas autoridades governamentais não atentaram para essa realidade, para a necessidade absoluta de se capacitar as incapacidades de se organizar uma rede de serviços domiciliares devidamente treinada e suficiente para alterar esse quadro dramático existente no Brasil?

O jornal “Estado de S.Paulo” publicou em 5 de março de 2006 uma notícia intitulada “Novo Programa para Idosos sai antes das eleições – Um dos pontos mais polêmicos é o atendimento de saúde em domicílio”. Vamos aguardar que seja concretizada essa boa nova…

IdosoSabemos que a partir dos 65 anos de idade as incapacidades crescem em grau e número. Outro dado preocupante é que o nosso país é um dos poucos nos quais as internações hospitalares de idosos continuam aumentando ao passo que nenhuma ou pouca atenção é dada a assistência domiciliar, não há estrutura de apoio oficial, não há formação de pessoal profissionalizado para essa atuação.

A criação de cursos de formação de cuidadores de idosos formais e informais deveria ser incentivada e multiplicada já que a atenção domiciliar é a resposta alternativa às necessidades especiais dos idosos com doenças crônicas ou terminais. São os cuidadores domiciliares os elementos capazes de prestar essa inestimável ajuda em conjunto com outros profissionais das equipes de saúde. No caso específico do Estado de São Paulo, tanto a Secretaria da Saúde como a Secretaria de Assistência e Desenvolvimento Social não tomaram conhecimento dessa urgente necessidade, apesar de nossa permanente demanda nesse sentido. Vários encontros ressaltaram essa urgente necessidade, sem nenhuma resposta dos gabinetes burocráticos.

Isso se dá igualmente no âmbito da cidade de São Paulo. Não sabemos as razões dessa melancólica realidade ou desse pouco caso. A Conferência Nacional dos Direitos da Pessoa Idosa acontecida em maio passado, em Brasília, consignou em suas conclusões: eixo 1 – Ações para efetivação dos direitos da pessoa idosa: item 14 – Capacitação permanente de cuidadores de idosos: funcionários, familiares e grupos de auto ajuda. Eixo 3 – Item 10 – Garantir ao idoso acompanhantes  e cuidadores com vistas a atender a demanda real. O Ministério da Previdência e Assistência Social e o Ministério da Saúde, editaram a Portaria inter ministerial no.  5.153, de 7 de abril de l999, instituindo o Programa Nacional de Cuidadores de Idosos. Na ocasião o Sr. José Serra era o Ministro da Saúde…

No que se refere às Instituições de Longa Permanência, no Estado de São Paulo, o quadro é triste e dantesco: nem 10% delas têm condições de oferecer um tratamento adequado aos seus internos: no máximo um pouco de higiene e uma televisão para distração. Todos os demais cuidados imprescindíveis não existem simplesmente, com gravíssimas conseqüências. Atrofias irreversíveis, dificuldades de locomoção, casos de surdês avançada e outros não são devidamente avaliados e reabilitados.

Felizmente, no âmbito oficial há algumas poucas e honrosas exceções. O Hospital das Clínicas e o Hospital Universitário da Universidade de São Paulo mantêm programas de assistência domiciliar bem estruturados. É o caso também do Hospital do Servidor Público Estadual e dos Hospitais Municipais do Jabaquara e do Campo Limpo, bem como da Coordenadoria de Saúde da Capela do Socorro, com formação de cuidadores e grupos de apoio e suporte técnico e prático dos mesmos. Devem existir outros abnegados, outras instituições que trabalham nesse âmbito, acredito.

A conclusão é que, salvo algumas iniciativas isoladas e meritórias, os órgãos oficiais não atinaram para a gravidade do problema e a necessidade de medidas práticas e imediatas para minorar essa aflitiva e gravíssima situação. No momento é importante a sociedade como um todo e a iniciativa privada participarem dessa empreitada. É louvável a iniciativa do SESC, organizando em novembro próximo o Seminário Nacional “A velhice fragilizada” para debater e procurar soluções para esse drama vivido por milhões de brasileiros, entregues à própria sorte.

Mesmo chegando a um total de 18 milhões de idosos no Brasil, há um descaso por parte das autoridades governamentais em relação a esse segmento.
Nunca podemos esquecer que todos envelheceremos. A lei da ação e reação existe para todos, tanto para pobres como para ricos, bons e maus, honestos e desonestos… É o ciclo da existência humana. (Nota do Blog)

Veja:

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Vera Garcia

Paulista, pedagoga e blogueira. Amputada do membro superior direito devido a um acidente na infância.

4 thoughts on “A situação do idoso fragilizado no Brasil

  • Obrigado por levantar o tema Vera!

    o Brasil tem um histórico de descaso com a pessoa idosa, por parte da sociedade e do governo que reflete o que ela é.

    aliás, os próprios movimentos sociais de defesa das pessoas com deficiência dificilmente se lembram em colocar questões específicas relativas aos idosos com deficiência em suas reinvidicações.

    apenas para ilustrar como o tema ´tratada em outros países, deixo aqui o exemplo inglês:

    “Toda fase da vida apresenta dificuldades, no caso da terceira idade, quando os idosos são dependentes, um dos maiores desafios é poder contar com o serviço de cuidadores informais, ou seja, os que são pagos para prestar assistência. Por ser um serviço caro para muitas famílias, estas optam por outras soluções como deixar o idoso com um familiar ou até instituionalizá-lo.

    Esta é uma realidade de muitas famílias, em muitos Estados de diferentes países. Na Inglaterra a solução deste problema deve ser votada no início de, Junho de 2010, quando será realizada uma eleição que reformulará o atual sistema de assistência social para idosos.

    A proposta será beneficiar em domícilio cerca de 350.000 idosos que necessitam de cuidados nas tarefas diárias, fornecendo os cuidados em casa, por meio dos “personal care”. Os idosos beneficiados serão desde aqueles que tem dificuldades para cozinhar até os que precisam de assistência em tarefas de autocuidado, ou seja, para ter esse serviço bastará comprovar a dependência.

    Atualmente na Inglaterra, qualquer pessoa com mais de £ 23.500 na poupança não recebe nenhuma assistência do Estado. No que está sendo chamado de Serviço Nacional de Saúde, os idosos serão beneficiados, independente do quanto tenham na poupança, o que muitas vezes é a economia de toda uma vida que em 1 ou 2 anos acaba devido aos gastos com a saúde e qualidade de vida.

    Com esta medida muitos idosos que sofrem de disfunção cognitiva, como aqueles com Demência de Alzheimer, poderão continuar participando socialmente e convivendo com suas famílias, pois o Estado dará suporte para isto. Além do mais, diminuirá para a família o desafio de lidar com as repercussões de doenças como Alzheimer e Parkinson, pois o cuidador fornecerá a assistência de autocuidado, a estimulação e isso tudo sem pesar no bolso da família ou dos responsáveis.

    Esta medida é espelhada no que já ocorre na Escócia, no entanto será exclusivamente destinada aos idosos que moram sozinhos ou com seus responsáveis/familiares, não incluindo aqueles institucionalizados.

    E por aqui?? Bem, aqui familiares, entidades e profissionais continuam lutando pelo básico, tentando capacitar os cuidadores informais pagos. Realidade bem diferente de outros países, onde já se começou a colocar os cuidadores treinados dentro da casa dos idosos que necessitam desse tipo de assistência, e o melhor de tudo: de forma gratuita.

    Um dia chegamos lá… mãos à obra!

    Ana Katharina Leite.”

    fonte: http://www.reabilitacaocognitiva.org/2009/10/personal-care-conheca-a-proposta-de-cuidador-gratuito-na-inglaterra-2/

    para conhecer mais sobre o programa de “community care”:

    http://www.multikulti.org.uk/pt/health/community-care-an-overview/index.html

    abraços!

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  • Vera Garcia

    É impressionante essas informações, Mauricio! A diferença é gritante!
    Você tem toda razão, o descaso é por parte tanto da sociedade como do governo. Essa preocupação deveria ser prioridade para qualquer grupo, instituição ou movimento que luta pelos direitos humanos, sobretudo de pessoas com deficiência.
    Pode contar comigo também levantarei essa bandeira.

    Abraços!

    Resposta
  • Amigo, infelizmente estamos em um Mundo onde o direito dos idosos foi excluído de uma forma que nem mais a justiça consegue fazer com que se cumpra as leis.
    O idoso esta jogado, sem auxilio algum, onde não tem apoio nem dos governantes e nem de sua própria familia que o joga de lado como um simples descarte.
    Estive esta semana com dois promotores para resolver o caso do meu pai que com 77 anos foi violentamente abusado por um hospital aqui de Porto Alegre, sito Hospital Mãe de Deus e mais os policiais que agiram com abuso de autoridade e até agora nada de justiça, já vai fazer um ano do fato.
    Acontece que tem um acumulo de inquérito e que a policia não consegue dar conta, pois nossos Governantes não contratam pessoal suficiente para agilizar os inquéritos.
    Então amigo estamos diante de um País onde a justiça demora uns 10 anos pra ser cumprida e quando chega lá no final o juiz ainda alivia sentença.
    Então se todo mundo acredita que não da nada abusar do idoso, a festa continua, vamos deixar o idoso de lado que não da nada mesmo.
    Eu fiz o blog do Maus Tratos ao idoso Denuncie em virtude de tudo que aconteceu com meu Pai onde não quero que venha acontecer com outros idosos.
    Só peço a Deus que venha a iluminar nossos Governantes para que seja feita leis mais severas quando se trata de uma pessoa idosa.
    Abraço fraterno e Muita Luz em seu caminho.

    Resposta
  • O idoso dependente acaba constantemente ENCARCERADO pela própria família em asilos, talvez isso acabe dificultando a obtenção de dados estatísticos sobre essa parcela da população visto que uma parte considerável dessas instituições são clandestinas. Não é tão raro ver a polícia estourar asilos clandestinos aqui no Rio Grande do Sul. Talvez o meu bairro seja uma excessão, apesar de alguns terem a saúde mais fragilizada e a mobilidade bastante comprometida é fácil encontrar grandes quantidades de idosos com alguma vida social.

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