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Atriz e modelo com deficiência Priscila Menucci entrevistada pelo blog Deficiente Ciente

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Priscila Menucci e família

Priscila Menucci, 36 anos, paulistana, pessoa com nanismo, tem 91 centímetros de altura. Atriz, modelo com deficiência e humorista, deu uma pausa em sua agenda para conceder uma entrevista ao Blog Deficiente Ciente. Priscila é casada, tem um filho e está grávida do segundo.  Acompanhe a entrevista!

1) Você vem de uma família de pessoas com nanismo? Conte um pouco sobre sua família e infância.

Não tem ninguém com nanismo na minha família. Ao pesquisar não descobrimos nada. Tenho um irmão com 1,90 e minha irmã 1,70. Então não é hereditário e sim genético, foi uma mutação genética nova, enfim fui criada pela minha avó paterna, pois meus pais não tiveram equilíbrio para encarar o nanismo. Minha mãe ficou sem chão, e sem condições de me educar. Como meus pais se separaram por motivos óbvios um culpando o outro pelo erro genético, sendo que ninguém tinha culpa de nada, esse erro pode ocorrer com qualquer um, sendo anão ou não. Sendo criada pela minha avó eu tive a melhor infância que uma criança poderia ter, brinquei, fui a festas, tive uma vida social bem intensa. Na escola, minha avó foi falar com a diretora antes da matricula, e pediu para ela conversar com todos da escola, explicando sobre a minha chegada, uma criança com nanismo. A escola já tinha alguns alunos com alguma deficiência, com nanismo fui à primeira.  Depois de ser incluída no colégio fui considerada o “terror do pedaço” (risos), isso quando eu tinha 6 anos, fui muito arteira. Com sete anos comecei a perceber a diferença de tamanho.
Então perguntei para minha vó por que meus amiguinhos estavam crescendo e eu não. Ela sentou comigo e explicou da seguinte maneira: “Filha algumas pessoas crescem mais que as outras, e você, não vai crescer do tamanho igual ao dos seus amiguinhos.Você vai ser sempre a menor deles, mas nem por isso deixará de ser grande como mulher”, essas palavras nunca vou esquecer. Então pensei: Ah tá! Compreendi, mas acho que naquele momento não tinha entendido tanto assim. Mas pelo menos ficou claro algumas coisas para uma criança de sete anos.
Mas minha infância foi normal tive amigos nas escolas, na rua, enfim brinquei. Na adolescência fui um “terror” também, mas não revoltada com minha deficiência fiz coisas de acordo com a minha idade: frequentei bailes, danceterias, matinês… Nossa que coisa de velha, essa de matinê (risos). Enfim, tudo normal. Nada de estranho para uma menina com nanismo. Claro que as pessoas olhavam e me incomodava um pouco porque eu me sentia tão igual aos meus amigos e eles me tratavam igual a qualquer outra pessoa. Era muito estranho, porque meus amigos ficavam bravo tipo “está olhando o quê?” (risos) Eu nem perdia tempo tentando responder as dúvidas das pessoas que só ficavam olhando e julgando sem se aproximar, deixava isso de lado e aconselhava os meus amigos a fazerem o mesmo. Quem quiser ficar olhando, podia, afinal isso não me incomodava.
Em relação aos namoros na adolescência, não tive problema algum. Beijei muito, namorei mais ainda depois que passou a adolescência e perdi a virgindade… Essas coisas começam a complicar na cabeça dos homens sem deficiência, a aceitação de gostar de alguém totalmente diferente perante a sociedade, mas na minha cabeça tudo era muito claro, eu sabia qual o homem que estava chegando por curiosidade e o que realmente sentia algo, pois a mulher sabe.
E assim foi até hoje. Sou casada com um homem maravilhoso, que também tem nanismo e constituímos uma família de pequenos.

2) Como você se relaciona na sociedade em relação a sua deficiência?

Bom, mesmo sabendo que a sociedade é ainda preconceituosa ao extremo, me imponho como ser humano tanto quanto igual a uma pessoa que tem um metro e oitenta de altura.
Mesmo que eu tenha que mostrar a todo tempo que não sou criança, apenas tenho tamanho de criança, que tenho capacidade de uma pessoa de estatura mediana, mulher em todos os sentidos: sensual, mãe e uma profissional ativa.

3) Atriz, modelo profissional, empresária, esposa, mãe… Como concilia tudo isso?

Nossa nem eu sei como consigo, mas é apenas administrar o tempo, que tudo dá certo. Divido o meu tempo entre as minhas tarefas para dar conta do recado (risos).  Às vezes umas atrapalhadas aqui outras ali, mas tudo que possa ser corrigido com bom humor e muita determinação.

4) Como conheceu a fotógrafa Kica de Castro?

Bom,  foi em 2010, no Conselho da Pessoa com Deficiência. Quem nos apresentou foi a Márcia Gori a grande culpada de tudo, e desde então estamos em parceria. Kica é minha atual assessora.

5) Como você vê a questão da acessibilidade?

Uma luta ainda para as pessoas com nanismo, pois usamos todos os acessos das pessoas com cadeiras de rodas, pois não tem nada adaptado para o nanismo. Teremos uma luta ainda pela frente, mas nada que não possa ser realizado, mesmo em longo prazo para meus filhos e outras pessoas com nanismo.

Campanha da Skol - Priscila Menucci
Campanha da Skol – Priscila Menucci

6) Sobre a campanha publicitária da Skol, como surgiu o convite?

Sou atriz e modelo, como qualquer campanha, tive que passar por um processo seletivo, como qualquer outra modelo, tive primeiro que mandar as fotos. Depois que aprovaram o meu book, fui fazer o teste pessoalmente e passando por mais esse processo seletivo veio o convite para fazer as fotos e o vídeo da campanha.
Fiquei muito satisfeita com o resultado, de ver a inclusão justamente num produto que sempre valoriza a sensualidade da mulher. Comercial de cerveja sempre pega as mulheres padrões de beleza para campanha, sempre altas, magras e na grande maioria loiras. Ver o resultado, com diversidade de beleza foi positivo; beleza da mulher loira, negra e uma anã. Essa campanha é resultado de um trabalho que buscamos como fala a minha atual assessora, provar que existe beleza na diversidade.

7) Em quais projetos você está ligada hoje?

Neste ano de 2011, fui reconhecida pelo Rank Brasil, como a menor atriz brasileira. Estou batalhando por oportunidades no cinema. Também estou envolvida com o Instituto Brasileiro Pró-nanismo, junto com a associação ANAERJ (Associação de Nanismo do Estado do Rio de Janeiro). Estou envolvida em alguns projetos de moda, exposição fotográfica que está rodando pelo Brasil “Toda Nudez vai ser revelada”, fotos sensuais de pessoas com deficiência da fotógrafa Kica de Castro. Além das atividades com a minha produtora, Pituka Produções, e no meio de tudo isso cuidar da casa, marido e dos filhos.

Sabemos que está grávida pela segunda vez. Qual é a sensação de se tornar mãe novamente?

Nossa uma loucura (risos), será que dou conta (risos)? Mas é tudo tão diferente a segunda gravidez. As preocupações não são as mesmas, tudo mais tranquilo, não cometi os mesmo erros: como engordar demais, deixar de fazer as coisas por estar grávida, perder o medo de ser mãe acho que a palavra é essa que define: perder o medo. Mas claro com os mesmos cuidados médicos assim como com o primeiro: pré-natal em dia, exames e remédio tudo corretamente. Para que o parto seja mais tranquilo possível. Estou esperando ansiosa para ver o rostinho do João Paulo.

9) Deixe uma mensagem aos leitores do blog Deficiente Ciente.

Não adianta ficar revoltado contra o mundo ou contra as pessoas, ser diferente aos olhares da sociedade é um desafio diário. O preconceito ainda existe, mas está melhorando aos poucos. Não vamos usar nossa deficiência para se promover, e sim, nosso talento como pessoas, não que nossas deficiências tenham que ser anuladas, de jeito nenhum, é que se colocarmos a deficiência em primeiro plano, nunca teremos o respeito da sociedade. Somos seres humanos competentes e capazes de atingir nossos sonhos e objetivos. Temos as nossas limitações e defeitos como qualquer pessoa, não somos melhores e nem piores que o nosso semelhante. Se usar a deficiência para autopromoção sempre verão as nossas limitações e nunca nossa real potencialidade.  Tudo que fugimos é do tal assistencialismo que tanto nos incomoda. Eu não preciso de assistencialismo na carreira profissional e nem na vida social. Assim como vocês também não precisam. Buscamos oportunidades e precisamos de respeito em nossos direitos como cidadãos, consumidores e seres humanos.

Priscila Menucci

Priscila Menucci

Priscila Menucci

Priscila Menucci
Esposição fotográfica “Toda nudez vai ser revelada” da fotógrafa Kica de Castro

Veja:

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Vera Garcia

Paulista, pedagoga e blogueira. Amputada do membro superior direito devido a um acidente na infância.

13 thoughts on “Atriz e modelo com deficiência Priscila Menucci entrevistada pelo blog Deficiente Ciente

  • Valeska Reis

    Achei alguns vídeos da Priscila na internet, são repletos de bom humor. Que seu segundo filho venha com muita saúde e que seja tão lindo quanto o primeiro. Parabéns por todas as suas conquistas.

    Beijos da Leska

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    • Eu tenho a impressão de que o nanismo ainda é encarado pelos “produtores culturais” como uma característica cômica, talvez por isso ela seja mais conhecida hoje por esses papéis mais direcionados ao humor…

      Resposta
      • Olá Daniel.

        A Priscila Menucci fez diversos cursos profissionalizantes, para atuar com artes cênicas. As pessoas não dão risada dela e sim dos personagens que ela dá vida. Por ser uma atriz, ela acaba fazendo diversos trabalhos na TV, na maioria voltada para comédia. O requisito em todos os processos seletivos para atuar, não é altura e sim o talento que ela tem de fazer humor.
        Conhecendo o trabalho da Priscila mais profundamente, vai ver que ela atua bastante como modelo fotográfico, esbanjando sensualidade e diversos desfiles de moda, que valoriza sua beleza.

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        • Sim, mas o preconceito ainda existe e não pode ser negado apenas pelo sucesso que ela obteve. Há outros artistas como ela que hoje estão sendo USADOS de forma a ridicularizar o nanismo.

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          • Daniel, o preconceito existe em muitas coisas, não apenas com pessoas que tenham alguma deficiência. Existe o preconceito racial, religioso, sexual, econômico… Cada profissional faz a sua escolha e muitas pessoas não acham que estão sendo usadas, pelo contrario. Pode ter certeza, a pessoa quando se sente usada, procura outros meios de sobrevivência.

  • Vera, parabéns pelo seu trabalho. A entrevista ficou ótima.
    Pri como sempre espalhando o bom humor.

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  • Pri q injustiça!!! Eu culpada??? Vc tem talento mulher, o que fiz foi só dar um cutucão… Te amo minha pekena notável!!! Bjkss nesta família linda e SUCESSOOOOO!!!

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  • Vera Garcia

    Priscila, amei sua entrevista! Obrigada por tê-la concedido ao blog!
    Muito sucesso e felicidades para você e sua linda família!

    Beijos!

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    • Priscila Menucci

      Olá Vera , eu que tenho que agradecer pela entrevista, desculpe a demora , pois quase o João nasce , mas enfim estou aqui para agradecer a bonita matéria que ficou, e que causou ainda alguma polêmica pelo fato de ser atriz e optar pelo humor tendo nanismo.
      Mas enfim se as pessoas pesquisarem direito , vão ver que fiz músicais infantis , e que morei um tempo em outro país trabalhando com musicais. É como minha assessora disse, as pessoas não riem de mim e sim dos meus personagens.
      Agradeço cada matéria que você colocou sobre minha vida artistica e de modelo.
      Sucesso para nós, é sempre um privilégio estar no seu blog.

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  • Joyce Barreto

    Muito bacana. Adorei a matéria.

    Resposta

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