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"Disseram que eu não seria capaz de cuidar da minha filha deficiente"

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A mãe Daiane Flores de Farias e Ana Clara Farias Lima, de 1 ano e 11 meses. Ela tem má-formação congênita e entrou na AACD aos 4 meses. Foto: Sérgio Chvaicer/AACD
A mãe Daiane Flores de Farias e Ana Clara Farias Lima, de 1 ano e 11 meses. Ela tem má-formação congênita e entrou na AACD aos 4 meses. Foto: Sérgio Chvaicer/AACD

Por Elioenai Paes , iG São Paulo

Livro mostra com imagens o amor incondicional de mães de crianças com deficiência. Conheça duas histórias de superação e luta contra o preconceito

Mal sabe a pequena Ana Clara, de apenas um ano e 11 meses, da luta que a mãe Daiane Farias enfrenta para que ela receba a mesma educação das crianças sem deficiência.

Ana Clara tem má-formação congênita que afetou braços e pernas, deixando problemas de locomoção. O amor de mãe, porém, não permitiu que as dificuldades se tornassem empecilhos – e Daiane faz todo o esforço para que a filha tenha acesso aos tratamentos necessários ao desenvolvimento.

Essa é apenas uma das histórias de amor incondicional entre mães e seus filhos portadores de deficiências físicas. Elas são ilustradas pelas fotografias do livro Que amor é esse? , projeto da Associação de Assistência à Criança Deficiente (AACD), lançado nesta quinta-feira (13), às 19h, na Livraria Cultura do Conjunto Nacional, em São Paulo. A renda obtida com as vendas será revertida para a instituição.

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A mãe da Ana Clara, Daiane Farias, estava no quarto mês de gestação quando recebeu a notícia de que a filha nasceria com deficiência.

“Fiquei apavorada e saí do hospital desnorteada, quase desmaiei. Um médico me indicou outro hospital para fazer o exame morfológico e acompanhamento”, conta ela.

Apesar do baque, Daiane nunca teve dúvida do amor que sentiria pela filha.

“Fiquei com medo de ter depressão, medo das coisas que o mundo tem para oferecer para minha filha e das dificuldades que ela enfrentará no futuro, mas nunca tive medo de não amá-la. Tinha certeza de que a amaria não importando em que condição ela viesse”, conta ela.

E o amor declarado se manifestou quando ela começou a passar por dificuldades que não estavam nos planos: o preconceito começou já no acompanhamento da gravidez.

“Aos cinco meses e meio um médico me chamou de lado e se ofereceu para interromper a gestação. Ele alegou que eu não seria capaz de cuidar da minha filha. Saí de lá e passei mal na hora. Não aceitaria a proposta jamais, porque acredito que ela veio assim porque é da vontade de Deus”.

Mas Daiane precisou aprender a lidar com situações do tipo, já que o pré-natal continuou sendo feito no mesmo lugar. Segundo ela, numa das consultas, o mesmo médico disse: “Sabe quando um raio cai na cabeça de alguém? Pois é, caiu na sua”, conta Daiane.

“Tive a sensação de que ele falava só para prejudicar e não sabia o que eu estava sentindo por dentro”, lamenta.

A gravidez foi o momento para trabalhar a estrutura psicológica, tanto para aprender a aceitar os futuros limites da filha como para valorizar cada aprendizado dela. Com apenas quatro meses de idade, Ana Clara foi chamada para se tornar paciente da AACD.

“Lá a Ana Clara tem fisioterapeutas que a acompanham, ela faz terapia ocupacional e aquática. É muito estimulante”, conta Daiana, ressaltando que lá é atendida por médicos excelentes.

O preconceito, infelizmente, ainda existe no dia a dia, e é denunciado pela mãe.

“Não é ‘esfregado na cara’, mas aquele no olhar das pessoas, a maneira que te abordam para falar. Procuro não dar atenção, senão não consigo viver”, conta.

Ana Clara, que hoje tem 63 centímetros de altura, gosta de conversar e se locomove arrastando-se pelo bumbum. “Ela até aprendeu a cair, de um modo que não machuca o bracinho”, conta a mãe com orgulho.

Felipe Amorim, 12 anos, também começou na AACD aos 4 meses de vida. Ele tem má-formação congênita, descoberta apenas no nascimento prematuro.

“Eu não tinha noção de nada sobre a deficiência dele. Eu e meu marido achávamos que ele não iria andar, jogar bola ou fazer coisas típicas das crianças”, conta a mãe, Daniela Amorim.

Mas a surpresa veio aos dois anos, quando Felipe deu os primeiros passos.

“É inesquecível, foi o momento mais importante da minha vida. Não dá para descrever a emoção de vê-lo andar”, conta a mãe do garoto que hoje, além de andar, correr, jogar bola e brincar, também disputa medalhas em campeonatos de natação, esporte que começou a praticar na AACD.

“No mês passado ele voltou para casa com três medalhas. Ganhou prata nos 50 metros livres, outra prata nos 50 metros peito e ouro nos 50 metros costas. Agora ele se inscreveu para participar dos jogos paraolímpicos escolares e aguarda o resultado”, conta com orgulho a mãe – desde o nascimento do filho, ela dedica 100% de seu tempo ao menino.

Daniela da Silva A. Amorim e o filho Felipe Alves Amorim, que tem má-formação congênita. Ele foi recebido pela AACD 12 anos atrás. Foto: Sérgio Chvaicer/AACD
Daniela da Silva A. Amorim e o filho Felipe Alves Amorim, que tem má-formação congênita. Ele foi recebido pela AACD 12 anos atrás. Foto: Sérgio Chvaicer/AACD

Apesar de todas as alegrias proporcionadas pelas consquistas de Felipe, a família não ficou livre do peso do preconceito.

“Já ouvi gente perguntando se eu já tinha dado risada de alguém para meu filho ter nascido com má-formação congênita”.

Segundo ela, até mesmo no meio da família, quando Felipe era ainda bebê, surgiram comentários para que ela escondesse a criança, “pois diziam que era uma vergonha para a família”, conta.

Hoje, a mãe que vivia defendendo o filho dos que diziam que o menino era doente – deficiência não é doença – aprendeu a deixá-lo se defender sozinho, por orientação da psicóloga que atendeu Felipe na instituição. E, segundo a mãe, Felipe sabe o que faz.

“Ele nunca teve dificuldades para fazer amigos, sempre esteve rodeado de crianças, sejam elas da AACD, da escola estadual onde estuda ou até mesmo da rua em que moramos”, conta a mãe.

“Uma vez nem tínhamos mudado de casa ainda, e ele já conhecia todo mundo que morava ao redor da casa nova”, conta, admirada.

O amor que a liga ao filho, segundo Daniela, é incondicional. “Hoje sou uma pessoa melhor por causa dele. Se fosse preciso passar por tudo que atravessei desde o nascimento, passaria com certeza. Nunca foi um fardo, não me arrependo de nada”, conta a mãe de Felipe, que hoje também usa o computador sozinho, cursa a sétima série do ensino fundamental, faz capoeira e pretende logo logo se tornar um astro da natação, esporte que ama.

Luana Ribeiro dos Santos e a filha Luara C. R. de Moraes, portadora de osteogêneses. Há 6 anos fez da AACD um segundo lar. Foto: Sérgio Chvaicer/AACD
Luana Ribeiro dos Santos e a filha Luara C. R. de Moraes, portadora de osteogêneses. Há 6 anos fez da AACD um segundo lar. Foto: Sérgio Chvaicer/AACD

Serviço

“Que amor é esse?” (Editora PitCult)

Lançamento: 13/06 às 19h

Local: Livraria Cultura do Conjunto Nacional (Av. Paulista, 2073 – Bela Vista, São Paulo – SP)

Fonte: IG

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Vera Garcia

Paulista, pedagoga e blogueira. Amputada do membro superior direito devido a um acidente na infância.

One thought on “"Disseram que eu não seria capaz de cuidar da minha filha deficiente"

  • guilherme da cunha de souza

    eu fiquei muito emocionado com essas mães que são guerreiras, assim como a minha mãe,eu nasci com sinais moderados de atrofia cerebral leve, assim como essas mães que nunca dormem para ver seus guerreiros bem, também foi a mesma coisa com a minha maã, se for dar as vidas para a gente na hora h elas dão, no inicio pode ser até triste, mas o final é sempre feliz.

    Resposta

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