De Quem é a Culpa?
Atualmente, muito se tem falado de quem é a culpa pela exclusão de alunos com deficiência. Penso que os culpados não são os familiares, os pais, o governo, mas todos aqueles que:
privam suas crianças de conviverem com outras crianças que possuem características diferentes;
não ensinam seus filhos a serem respeitosos com o outro, independente de sua raça, cor, etnia ou deficiência;
não ensinam os pequenos o valor do amor e da solidariedade; não orientam seus filhos que o Ser é melhor que o Ter, enfim aqueles que valorizam o outro pela aparência e não pela essência.
O problema do preconceito origina-se a partir daí. O preconceito cria raízes tão profundas, incorpora-se no ser humano de tal forma que é quase impossível retirá-lo. O preconceito é o câncer da sociedade.
A doutora Luciene M. da Silva* em seu artigo “O estranhamento causado pela deficiência: Preconceito e Experiência”, descreve muito bem o comportamento da pessoa preconceituosa. De acordo com a Dr. Luciene:
“O indivíduo preconceituoso fecha-se dogmaticamente em determinadas opiniões, sendo assim impedido de ter algum conhecimento sobre o objeto que o faria rever suas posições e, assim, ultrapassar o juízo provisório. O diferente estigmatizado evoca lembranças que quer negar, e mesmo nos momentos em que se torna possível a convivência é convencido da inconveniência de mostrar o que pode parecer identificação com “um outro”. Esse sentimento ambíguo é que determina o afastamento, o que impede o contato pelo medo de que, com a identificação, sejamos analogamente humilhados. Vem também do medo do diferente, do que não é conhecido, podendo ser transformado em inferioridade, desigualdade e exclusão. O preconceituoso afasta esse “outro”, porque ele põe em perigo sua estabilidade psíquica. Assim, o preconceito cumpre também uma função social: construir o diferente como culpado pelos males e inseguranças daqueles que são iguais.”
Percebe-se que o preconceito é muito mais complexo do que imaginamos, pois ele é histórico, cultural e pessoal. As pessoas preconceituosas não aceitam as pessoas com deficiência porque não querem ser iguais a ela. A presença das pessoas com deficiência em qualquer ambiente torna as pessoas preconceituosas frágeis, pois elas querem se sentir constantemente completas.
Convido você, leitor, a refletir sobre esse assunto. O que você tem feito pelo seu pequeno enquanto mãe, pai ou representante legal? Que tipo de educação está dando a ele? Que tipo de ser humano está formando? Deseja formar um ser humano justo, solidário, corajoso e respeitoso? Ou deseja que esse pequeno se transforme em um homem preconceituoso, individualista, mesquinho e covarde? A resposta só depende de você.
Nossas crianças são os futuros cidadãos do país e do mundo. Eles serão os construtores da História.
* Luciene M. da Silva, doutora em educação pela Pontifícia Univerdade Católica de São Paulo, é professora da Universidade do Estado da Bahia, atuando no Curso de Graduação em Pedagogia e no Programa de Pós-Graduação e Contemporaneidade da mesma Universidade.
Texto escrito por Vera – Deficiente Ciente