Educação Inclusiva

Inclusão Escolar: Para especialista, falta adequar escola e capacitar professor

Compartilhe:
Pin Share

Para especialista, falta adequar escola e capacitar professorCaro leitor,

Para que possa entender melhor essa matéria, recomendo a leitura “Crônica da exclusão escolar de Natasha”, veja ao final do post.

Sem ação coordenada, preconceito vai continuar; neuropediatra diz que paralisia cerebral exige análise individual

Para os especialistas, como as sequelas da paralisia cerebral (PC) dependem da extensão e do local da lesão, é importante que os casos sejam analisados individualmente.

“Há crianças com Paralisia Cerebral que têm atraso intelectual e outras que são capazes de tarefas como traduzir textos”, explica Luiz Celso Villanova, neuropediatra da Unifesp. “O problema é que acham que todos os indivíduos que têm grave comprometimento motor também têm grave comprometimento intelectual.”

Segundo a professora Walkíria de Assis, especialista em educação especial, o preconceito será vencido quando, além da reforma física das escolas, os professores forem capacitados. “Não dá para exigir sem ensinar. Ele está acostumado a uma sala com 40 alunos, não sabe o que fazer quando vê um aluno especial.”

A lei brasileira diz que escolas públicas e particulares têm a obrigação de aceitar a matrícula de qualquer aluno com deficiência física desde que ele tenha capacidade para acompanhar o ensino regular. Quando o envolvimento motor é importante, a escola deve usar estratégias que viabilizem a aprendizagem.

O decreto federal 5.296, de 2004, determinou que todos os estabelecimentos de ensino proporcionassem condições de acesso e utilização de todos os seus ambientes para pessoas portadoras de deficiência ou com mobilidade reduzida. As edificações tinham até 30 meses para garantir a acessibilidade – o prazo venceu em 2007.

Em nota, a Secretaria Municipal de Educação disse que considera inadmissível que uma escola não faça o cadastro de um estudante e fará uma apuração para verificar se houve recusa da escola Tenente José Maria Pinto Duarte em cadastrar Natasha.

O Grupo de Atuação Especial de Proteção às Pessoas com Deficiência (Gaeppd) do Ministério Público afirma que os principais problemas apontados pelas famílias são falta de acessibilidade e transporte, projeto pedagógico inadequado e recusa de matrícula nas escolas particulares.

(Des)inclusão

25% das escolas estaduais da capital estão completamente adaptadas para receber deficientes físicos

50% da rede municipal de educação é acessível a estudantes que usam cadeiras de rodas

 Fonte: http://www.estadao.com.br/

Crônica da exclusão escolar de Natasha

Mãe de criança com paralisia cerebral conta a saga para matricular a filha em escola pública
Ocimara Balmant

Na semana em que se comemorou o Dia Nacional de Luta pela Educação Inclusiva, 14 de abril, a reportagem do Estado acompanhou a saga de Natasha Pinheiro Batista, de 12 anos, e de sua mãe, Martinha dos Santos, por uma vaga na escola. Natasha sofre de paralisia cerebral, o que não lhe traz déficit intelectual, apenas dificuldade motora e de fala. Em vez do caderno, já que não consegue escrever, usa um notebook.

Terça-feira

Acomodada em seu carrinho elétrico, Natasha passa a tarde subindo e descendo as ladeiras próximas à sua casa, no Pacaembu. A cada letreiro com nome de escola, elas param.

Nas mãos, Martinha leva o laudo neurológico que atesta as condições de aprendizagem da filha. Mas papel não ajuda. Colégio nenhum – nem municipal, nem estadual, nem particular – se diz preparado para receber a criança.

A primeira tentativa foi num colégio particular tradicional do bairro, onde Natasha precisou esperar do lado de fora por causa das escadas logo na entrada. Na secretaria, a funcionária disse que havia vaga, mas seria necessário conversar com a diretora para saber se Natasha poderia estudar ali.

Quando viu mãe e filha, a diretora esclareceu que não havia vaga. A informação teria sido um equívoco da funcionária. Indagada se poderia ser feita uma pré-reserva para 2012, explicou que a escola exige uma prova de aptidão e o modelo pedagógico do colégio não seria adequado às necessidades da menina. “Sugiro que você procure um local preparado para esses casos. Sinceramente, acho prejudicial uma escola como a nossa para sua filha. Você ia expô-la a situações que ela não acompanharia.”

Carrinho na rua, a procura continua. Uma quadra à frente, Martinha entra em outro colégio particular, desta vez bem pequeno. Parece perfeito. A turma do 6.º ano só tem quatro alunos e a diretora se prontifica a preparar provas especiais: com o mesmo conteúdo, mas em um formato acessível. Em vez de ter de responder a questões discursivas, Natasha faria prova de múltipla escolha.

Um detalhe, no entanto, atravanca a matrícula: Martinha precisaria acompanhar a filha ou providenciar um cuidador que ficasse o tempo todo na escola para carregar a garota na escada, levá-la ao banheiro e dar o lanche. “Se eu pudesse parar de trabalhar… Mas não posso.”

Alguns quarteirões acima, chegamos à Escola Municipal Tenente José Maria Pinto Duarte. Por lá, as salas de aula ficam no primeiro e segundo andares. No térreo, só funciona a administração. Martinha já havia passado por ali na semana anterior e feito uma requisição de matrícula. A funcionária a atende outra vez e diz que a escola tem duas alunas especiais, mas que não são cadeirantes. Cortês, conta que trabalha no colégio há décadas e, quando era mais nova, aceitava cadeirantes e os carregava no colo. “Agora, não aguento mais.”

Natasha também não. Mas ninguém a escuta e ela volta para casa chorando, mais uma vez.

Quarta-feira

Logo cedo, Martinha vai ao Centro de Formação e Acompanhamento à Inclusão da Prefeitura, o Cefai. Lá, encontra, por acaso, a diretora da escola municipal onde esteve no dia anterior. “Ela disse que se eu me prontificasse a ficar na escola levando a Natasha de um lado ao outro, ela faria a matrícula.” Martinha aceita a proposta. O trabalho seria feito por uma prima, no momento desempregada.

Quinta-feira

No Dia de Luta pela Educação Inclusiva, Martinha chega à escola com a papelada. Sai chorando. A diretora não estava e um funcionário diz que não pode fazer a matrícula por causa da deficiência da garota.

Sexta-feira

A saga, com final improvisado, tem fim após o Estadão confrontar as secretarias municipal e estadual de Educação. Martinha é autorizada a matricular a filha na escola municipal, desde que acompanhe Natasha escada acima até que a escola consiga um auxiliar de vida escolar (AVE), profissional contratado para ajudar as crianças portadoras de deficiências mais severas. Atualmente há 400 deles em toda a rede municipal.

A secretaria estadual informa à mãe que há vagas disponíveis em duas escolas completamente adaptadas que ficam a menos de três quilômetros da residência de Natasha. Nelas, a menina se locomoveria sozinha e teria acesso ao serviço de apoio pedagógico, mas não receberia atenção especial na hora de se alimentar e ir ao banheiro, por exemplo, já que não há cuidadores.

“Cada uma resolveu metade do problema. Na estadual, ela se locomove sozinha, mas não tem um cuidador à disposição. Na municipal, ela depende de ajuda para subir e descer as escadas, mas existe a esperança de chegar alguém para ajudá-la. Decidi enfrentar as escadas. Mas, fala a verdade, você acha que algum dia minha filha vai ter uma escola totalmente inclusiva?”

Fonte: Estadão (18/04/11)
Referência: Rede Saci

Veja:
Nossa sociedade: conquistas e falhas em relação à inclusão
Inclusão de alunos com deficiência: Uma experiência positiva

Mitos e preconceitos em torno do aluno com deficiência na escola regular e na escola especial
Inclusão de alunos com paralisia cerebral no ensino superior: olhar da psicologia

Compartilhe:
Pin Share

Vera Garcia

Paulista, pedagoga e blogueira. Amputada do membro superior direito devido a um acidente na infância.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

error: Content is protected !!

Damos valor à sua privacidade

Nós e os nossos parceiros armazenamos ou acedemos a informações dos dispositivos, tais como cookies, e processamos dados pessoais, tais como identificadores exclusivos e informações padrão enviadas pelos dispositivos, para as finalidades descritas abaixo. Poderá clicar para consentir o processamento por nossa parte e pela parte dos nossos parceiros para tais finalidades. Em alternativa, poderá clicar para recusar o consentimento, ou aceder a informações mais pormenorizadas e alterar as suas preferências antes de dar consentimento. As suas preferências serão aplicadas apenas a este website.

Cookies estritamente necessários

Estes cookies são necessários para que o website funcione e não podem ser desligados nos nossos sistemas. Normalmente, eles só são configurados em resposta a ações levadas a cabo por si e que correspondem a uma solicitação de serviços, tais como definir as suas preferências de privacidade, iniciar sessão ou preencher formulários. Pode configurar o seu navegador para bloquear ou alertá-lo(a) sobre esses cookies, mas algumas partes do website não funcionarão. Estes cookies não armazenam qualquer informação pessoal identificável.

Cookies de desempenho

Estes cookies permitem-nos contar visitas e fontes de tráfego, para que possamos medir e melhorar o desempenho do nosso website. Eles ajudam-nos a saber quais são as páginas mais e menos populares e a ver como os visitantes se movimentam pelo website. Todas as informações recolhidas por estes cookies são agregadas e, por conseguinte, anónimas. Se não permitir estes cookies, não saberemos quando visitou o nosso site.

Cookies de funcionalidade

Estes cookies permitem que o site forneça uma funcionalidade e personalização melhoradas. Podem ser estabelecidos por nós ou por fornecedores externos cujos serviços adicionámos às nossas páginas. Se não permitir estes cookies algumas destas funcionalidades, ou mesmo todas, podem não atuar corretamente.

Cookies de publicidade

Estes cookies podem ser estabelecidos através do nosso site pelos nossos parceiros de publicidade. Podem ser usados por essas empresas para construir um perfil sobre os seus interesses e mostrar-lhe anúncios relevantes em outros websites. Eles não armazenam diretamente informações pessoais, mas são baseados na identificação exclusiva do seu navegador e dispositivo de internet. Se não permitir estes cookies, terá menos publicidade direcionada.

Visite as nossas páginas de Políticas de privacidade e Termos e condições.

Importante: Este site faz uso de cookies para melhorar a sua experiência de navegação e recomendar conteúdo de seu interesse. Ao utilizar nosso site, você concorda com tal monitoramento.