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Para 72% dos pais de criança autista, escola não ajuda no aprendizado do filho

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Gisleine Hoffmann, mãe de Lucas, de 5 anos, viu a evolução do filho ao procurar por uma nova escola (Foto: Arquivo pessoal)

Mesmo assim, 85% dos pais de autista avaliam a escola como uma experiência positiva, mostra pesquisa da USP

Uma dissertação de mestrado da Universidade de São Paulo (USP) mostra que apenas 27,7% dos pais de crianças com autismo avaliam que a escola colabora na aprendizagem acadêmica do filho. Por outro lado, 85% dos genitores entendem a escola como uma experiência positiva e 53% acreditam que o desenvolvimento social é o resultado mais relevante na frequência às aulas.

Para realizar sua pesquisa, Ana Gabriela Lopes Pimentel ouviu 56 cuidadores na região oeste da Grande São Paulo. Do total, 54 crianças iam para escola. A maioria dos pacientes era meninos, com idade entre 3 e 16 anos.

Para Ana Gabriela, a pouca menção dos resultados educacionais dos filhos é devido a um de dois fatores: ou o potencial educativo das crianças e adolescentes com autismo está sendo subestimado, ou os resultados escolares estão sendo ignorados.

A orientadora da pesquisa, professora Fernanda Dreux Miranda Fernandes, explica que os 85% de aprovação, mesmo que não signifiquem aprendizado, é resultado de uma gratidão. Ela acredita que o medo de o filho não ser aceito é tão grande que, somente o fato de a criança estar matriculada e com direito ao convívio já é visto como suficiente.

Um equívoco, explica Fernanda. “A socialização não pode ser vista como o mais importante”. Mesmo porque, afirma, a maior parte das crianças com autismo consegue acompanhar o currículo de uma escola regular, ainda que alguns com um aproveitamento relativo, desde que com acompanhamento adequado.

Adaptações

Para Gisleine Hoffmann, mãe de Lucas, de 5 anos, a solução foi mudar de escola. Matriculado em uma colégio no interior de São Paulo desde que tinha um aninho, o garoto costumava ficar muito agitado. “Além disso, até uns três anos, ele não falava, se comunicava apenas com gestos”, conta.

Quando a criança completou três anos, veio o diagnóstico de autismo. “Nisso, pedi para acompanhar algumas aulas e descobri que ele ficava afastado dos colegas. Quando não se dava bem em uma atividade, era deixado de lado”, conta.

O diagnóstico coincidiu com a mudança de cidade e Gisleine aproveitou para procurar uma escola menor. Apesar de ser regular, a atual instituição de ensino onde Lucas estuda tem apenas cinco alunos na sala.

“Busquei uma escola com poucas crianças. Foi um desafio para o Lucas e para a escola também, já que eles não tinham tido um aluno com autismo antes.”

A evolução veio com pequenas coisas no dia a dia: Lucas começou a contar eventos da escola para a mãe, falar sobre os colegas e a escrever sozinho. No último Natal, escreveu a primeira cartinha para o Papai Noel. Além disso, aprendeu a jogar xadrez. “Ele é muito bom. Me contaram que os amigos pedem para jogar com ele”, conta a mãe orgulhosa.

História parecida é de Paula Naime, mãe da Carolina, de 5 anos. Com dois anos e sem Carolina andar ou falar, a mãe decidiu procurar por ajuda. O neurologista recomendou que ela procurasse uma escola para que a filha se integrasse. “Na escola, me falaram que ela era diferente”, conta. O diagnóstico de autismo veio dois anos depois

Questionada sobre o aprendizado da filha, ela diz que muitas escolas estão bem menos preparadas do que os pais. Matriculada em um escola regular, porém pequena, Carolina já consegue escrever o alfabeto e sabe os números. “Ás vezes, eu brinco com ela à noite, digo que ela vai ser presidente de uma multinacional. Mas, a verdade, é que ela pode ser o que ela quiser, o mais importante é que seja feliz”, diz Paula.

Tempo na escola

Outra questão que chamou atenção durante a pesquisa é que apenas 70% das crianças com autismo frequentam a escola durante toda a semana, enquanto mais de 16% vão apenas três dias por semana.

Resultado de falta de estrutura e preparo, explica Fernanda Dreux. “A política pública é incluir as crianças em escolas regulares. Mas ainda há situações como a de professores que têm uma sala com 50 alunos e mais uma criança autista”, pondera.

A fonoaudióloga Danielle Defense, que trabalha com crianças autistas, diz que, mesmo aliviados, muitos pais acabam frustrados com a situação e não raro, têm um histórico de tentativas em muitas escolas. “Eles mostram bastante insatisfação em como são recebidos e como são ouvidos pelos professores e diretores, por mais que as crianças estivessem na escola. Há muita resistência.”

Ainda assim, Daniele insiste para que os pais não desistam, e acompanhem o progresso acadêmico do filho. “É trabalho de sociabilização é muito importante, mas a criança tem que ter aprendizado”, completa.

Links importantes para pais e professores conhecerem o assunto:

Cartilha das diretrizes do autismo feita pelo Ministério da Saúde

Lei de Proteção ao Autismo

Cartilha da Defensoria Pública do Estado de São Paulo

Programa de Inclui – Inclusão de alunos com necessidades especiais no Municipio de São Paulo.

Contatos importantes:

Secretaria da Saúde do Estado de São Paulo (Solicitação de Tratamento Gratuito e Orientação sobre a parte escolar)
Rua Drº Enéias de Carvalho Aguiar 188, primeiro andar, Cerqueira César

CAPE – Centro de Apoio Pedagógico Especializado (Prefeitura de São Paulo)
Rua Pensilvânia, 115 – Fundos
Tel: (11) 3396-0649

Fonte: Último Segundo

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Vera Garcia

Paulista, pedagoga e blogueira. Amputada do membro superior direito devido a um acidente na infância.

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