Síndromes

“Não vivemos uma sem a outra”, afirma a atriz portuguesa, Bibá Pitta, sobre a filha com síndrome de down

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Bibá Pitta, atriz em Portugal, é um exemplo de mãe que tem uma filha especial e participa de várias  campanhas de sensibilização para ajudar pessoas com síndrome de Down e outras patologias.

Antes de entrar na sala de operações para mais uma cesariana, a terceira da sua vida, Bibá Pitta, folheava, junto da mãe, uma revista cor-de-rosa. Parou numas páginas onde a melhor amiga da princesa Diana posava com as duas filhas, uma delas com trissomia 21. Na memória de Bibá ficou o ar feliz daquela mulher. Minutos depois, voltava então a ser mãe. 19 de dezembro de 1997. O relógio marcava 13h55. Após o nascimento de Maria e Tomás, de cinco e quatro anos na altura, era o tempo de Madalena conhecer o Mundo.

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Na gravidez tudo tinha corrido lindamente, por isso, quando entrou no quarto, ainda sem ter conhecido a filha, Bibá não percebeu o que diziam aqueles rostos. “Há coisas de que eu me lembrarei todos os dias da minha vida e uma delas é o ar de todos naquele quarto. Não era um ar feliz nem infeliz, estava tudo um bocado pálido, as cabeças cabisbaixas, os cabelos escorridos para os olhos, todos a desviarem o olhar. Foi de tal maneira que eu cheguei a pensar que tinha acontecido alguma coisa à Madalena, cheguei a pensar que a tinha perdido”, recorda. Só horas depois conheceu a filha. Nesse momento, no quarto, só estavam Bibá, o marido, Fernando Gouveia, e Madalena. “Peguei-a ao colo e não lhe olhei logo para a cara. Fui sentindo os pés, as pernas, os braços, os dedos das mãos. Estava à procura do que podia estar mal para todos estarem com aquela cara. Eu estava tensa, nervosa, já sabia que alguma coisa não estava bem.

Depois, olhei para a cara da Madalena.” E as páginas da revista com a menina com trissomia 21  voltaram à cabeça de Bibá. “Lembrei-me imediatamente do ar radiante daquela mãe.” E chorou, claro que chorou, sofreu, mas a bebé que segurava ao colo era a sua filha, que tinha “sido feita com tanto amor”. Sem pudores, assume: “Chorei aquela noite toda sempre com a Madalena debaixo do braço. Nunca mais a larguei, nunca tive pena dela e nunca perguntei porque é que tinha acontecido a mim.” O choro continuou por mais dias, mas não era um choro de desespero,“era um choro de aprendizagem, eu queria ser a melhor mãe do Mundo e tinha medo do que ia acontecer”.

Como qualquer mãe, Bibá tinha medo do que o Mundo podia dar à filha. “Se no dia-a-dia já pensamos como é que os nossos filhos vão ser tratados na escola, ou noutros sítios, imagine-se o que é ter um filho diferente. Estamos sempre ali com o coração nas mãos”, diz, olhos a conterem as lágrimas, enquanto simula uma falta de ar. E esse mesmo dia-a-dia traz situações que magoam. Como a mãe que desvia o carrinho do bebé para Madalena não mexer no filho; os pais que afastam a criança para Madalena não brincar com ela na praia; os toques no cotovelo, os sussurros e gestos que apontam sempre o dedo para Madalena.

As pequenas grandes vitórias mostram isso mesmo. Ao fim de nove anos de tentativas frustradas, conseguiu apertar os botões do pijama; depois de quase um ano a andar de triciclo sempre para trás, conseguiu dar uma volta ao jardim no sentido certo; agora, já consegue escrever a letra “M” sem ser com 20 pernas, por exemplo. “Tudo é difícil para a Madalena, por isso, em cada vitória, fazemos uma grande festa. Para ela foi mais difícil gatinhar, andar, vestir-se sozinha sem pôr uma peça mal, almoçar de faca e garfo, comer com pauzinhos. Tudo isto pode parecer ridículo, mas é de uma importância enorme. A primeira vez que nadou, que deu o primeiro mergulho e veio à tona, a primeira vez que andou de avião, de teleférico…”

No meio desta grande aventura, e embora seja sempre uma pessoa extremamente positiva, Bibá também teve dias esgotantes. “A Madalena era hiperativa e andava a mil à hora. Por onde ela passava, era uma rajada, fazia o que lhe apetecia, não tinha norte. Fui ao médico e disse: ‘Por favor, o que pode fazer? Ela já é doida, assim eu também vou ficar doida!’ Tomou medicação e agora já não toma nada. E nunca deixei de ir a sítio nenhum com ela.” Foi por levá-la sempre consigo que Portugal foi assistindo ao crescimento de Madalena nas revistas. Madalena sai à mãe, gosta de dançar, de se divertir, de jantar fora, de passar horas em lojas a escolher roupa. “A Madalena gosta, acima de tudo, de viver.

A rotina é que é um pouco diferente e os programas são com os pais e os irmãos e não com os amigos. Os irmãos ajudam muito para que ela se sinta integrada e se sinta mulher, ela já não é uma bebé.” Sobre essa passagem do tempo, Bibá não se preocupa com o dia em que já não estará aqui de braço dado a Madalena, a mostrar- -lhe o Mundo. “Quando eu cá não estiver, sei que todos vão apoiar a Madalena. Não posso pensar no desespero, no que vai acontecer. Se eu me for embora primeiro, vou ter com a minha mãe, que tenho tantas saudades dela.” “Não vivemos uma sem a outra” Mãe de cinco filhos – Maria, Tomás, Madalena, Salvador e Dinis –, Bibá tem um orgulho enorme em todos e orgulho nos valores que sabe que cada um já tem dentro de si. Não fala mais de Madalena por gostar mais dela, fala porque é a voz da filha: “Não vivemos uma sem a outra. Enquanto os outros batem as asas, com a Madalena é diferente. As asas dela não cresceram da mesma maneira. Para as asas dela voarem, eu tenho de voar com ela.” Para o Mundo, Madalena nasceu com trissomia 21, um cromossoma a mais, para Bibá podia ter sido com outra coisa qualquer, não quer saber.

“Quando nós temos a capacidade de amar incondicionalmente as pessoas como elas são, nós aceitamos as coisas”, remata.

Fonte: http://www.vip.pt/

Quando a filha completou 19 anos ela escreveu uma dedicatória no facebook para a filha tão especial que lhe ensinou tanto:

“Hoje dia 19 a minha “india” faz 19 anos !!! A que me fez deixar de ter pressa e me ensinou a esperar pelas coisas, a ser mais tolerante, a não acalentar expectativas, a não impor metas de espécie alguma, o ser humano mais genuíno e bondoso que alguma vez conheci, a personificação do Amor sem limites!

A Única que está verdadeiramente, e sempre, disponível para os outros!! A rainha da festa, a pop star, a diva das divas , a minha boneca chinesa que todos os dias me surpreende e me brinda com a graça da sua maravilhosa existência!!Obrigada por me ensinares todos os dias a ser mais feliz!! Juntas de braço dado e inseparáveis (como almas gémeas) vamos trilhando este caminho que é tão bom de se viver “a vida” e como sempre te digo:

Até amanhã minha filha dorme bem! Amo-te muito!!”

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Vera Garcia

Paulista, pedagoga e blogueira. Amputada do membro superior direito devido a um acidente na infância.

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