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Matrícula de ex-miss para medicina em vaga de deficiente na Ufac é rejeitada após polêmica

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Comissão da universidade entendeu que ela não comprovou existência de deficiência e indeferiu inscrição. Lista de indeferimentos foi divulgada na noite de quarta-feira (19).

A ex-miss Acre Hyalina Lins Farias, de 21 anos, teve a matrícula indeferida pela Universidade Federal do Acre (Ufac) após ser convocada na lista da 2ª chamada do Sisu para o curso de medicina em vaga para deficiente e gerar muita polêmica. A lista de indeferimentos foi divulgada na noite de quarta-feira (19) pela universidade.

Ela foi convocada para o curso de medicina na modalidade de candidatos com deficiência e com renda familiar bruta per capita igual ou inferior a 1,5 salário mínimo, que tenham cursado integralmente o ensino médio em escolas públicas.

Conforme o edital, a comissão que avaliou a documentação dos estudantes convocados entendeu que ela não comprovou a existência de deficiência elegível para a política de ação afirmativa.

A defesa da estudante disse que considera o indeferimento da matrícula como “absurda e inconstitucional”. A nota, assinada pela advogada Samarah Motta, diz ainda que Hyalina sofre com deficiência visual desde criança e que, desde então, é acompanhada com oftalmologista.

“A modelo sempre buscou corrigir sua visão por meio de óculos e lentes. Contudo, o tratamento não é suficiente para reparar sua deficiência, impossibilitando-a de estar em grau de igualdade com pessoas que possuem visão regular”, alega.

A advogada disse ainda que a repercussão da convocação acabou atrapalhando a matrícula da modelo e aponta ainda falhas no processo de perícia da Ufac.

“Mesmo com todos os documentos em mãos que comprovam sua deficiência, a modelo foi impedida de se matricular no curso de medicina, sendo que a UFAC sequer realizou perícia com médico oftalmologista para contestar a doença da candidata”, explica.

‘Cultura misógina’

A nota da defesa de Hyalina diz ainda que, desde a repercussão do caso, ela vem sendo atacada nas redes sociais. “Como se uma pessoa bonita não pudesse ter alguma deformidade ou limitação física e ou sensorial”, pontua na nota.

A advogada destaca ainda que vai recorrer na Justiça para que o direito da ex-miss seja assegurado. Além disso, deve processar quem denegriu a imagem dela nas redes sociais.

“A atitude da Ufac, além de ilegal e discriminatória, reflete uma cultura misógina que inferioriza as mulheres, coisificando o feminino e criando verdadeira política de exclusão social baseada em fake news”, finaliza a nota.

Lista

Ao todo, 48 estudantes tiveram a matrícula indeferida para o campus da Ufac na capital acreana e outros 14 para a universidade em Cruzeiro do Sul, no interior do estado. A decisão ainda cabe recurso entre os dias 20 e 21 de fevereiro, das 8h às 12h e das 14h às 17h.

Em Rio Branco, os recursos devem ser feitos no bloco da reitoria, na Ufac. E, em Cruzeiro do Sul, no protocolo geral do campus da cidade.

Comissão avaliadora

A Ufac rebateu as alegações da defesa da ex-miss, alegando que todos os candidatos que concorrem a vagas reservadas às pessoas com deficiência (PcD) são submetidos à Comissão Permanente de Validação (CPV), que é composta por uma equipe multiprofissional, formada por especialistas e médicos peritos, pertencentes ao quadro permanente da universidade.

“A CPV/PcD analisa todos os candidatos de maneira biopsicossocial. Ou seja, além de analisar os laudos médicos, os membros da comissão realizam entrevistas para comprovar se o candidato apresenta alguma condição que o caracteriza como pessoa com deficiência”, alega na nota.

Disse ainda que, caso o pedido seja indeferido, o candidato pode recorrer em um prazo de dois dias úteis, a contar do recebimento do processo.

“A Ufac reitera seu compromisso com a transparência e o direito à igualdade a todos os candidatos, baseando suas decisões em pareceres profissionais, garantindo sempre o respeito a todos, sem distinções”, finaliza.

Polêmica

Desde que Hyalina, que foi miss Acre em 2018, foi convocada pela universidade na 2ª chamada do Sisu, o caso gerou polêmica nas redes sociais e alguns internautas chegaram a alegar que a jovem não tinha deficiência e possuía uma vida de luxo.

“O problema é que ela não cumpre os requisitos ué [sic], tirou a vaga de uma pessoa que cumpre. Ela não tem baixa renda e nem é deficiente”, disse um internauta.

“Ela falou, falou nos stories, e não disse a deficiência. Entrar com esse tipo de cota, mentindo, é muita falta de caráter”, diz outro comentário.
Em entrevista ao G1 no dia 12 de fevereiro, Hyalina explicou que sofre de baixa visão desde a infância e atualmente tem 20 graus de miopia. Mesmo usando lente de contato, ela diz que não consegue enxergar perfeitamente com nenhum tipo de lente corretiva.

“Minha visão não é perfeita. Queria que fosse, mas não é, e não é algo que exponho na minha rede social. Em relação à renda, minha família tem baixa renda. Fui uma pessoa que sempre morou em periferia, sempre peguei ônibus para estudar. Estudei em creche pública, ensino fundamental e médio em escola pública. Tenho como comprovar”, frisou na época da polêmica.

A jovem já é estudante do curso de enfermagem da Ufac. Ela revelou que deve largar o curso para estudar medicina.

Estudante Hyalina diz que tem baixa visão com 20 graus de miopia e sempre estudou em escolas públicas — Foto: Reprodução/Instagram

Viagens pagas pelo namorado

Sobre as fotos de viagens e passeios postadas nas redes sociais, Hyalina falou que as despesas são custeadas pelo namorado, que é cirurgião plástico no estado acreano.

“Ele viaja e me leva com ele. Posto fotos das viagens, mas quem custeia isso é ele. A renda da minha família não tem nada a ver com isso. De repente as pessoas passaram a olhar para isso. Não mereço só porque namoro uma pessoa que estudou e conseguiu vencer na vida? Se ele me largar amanhã eu continuo a mesma. Só vou parar de viajar”, lamentou.
Hyalina falou também que se preparou para as provas do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) em um curso preparatório, por meio de uma bolsa. A jovem garantiu ainda que não trabalha, mas que faz parcerias com lojas e ganha descontos em produtos ou brindes.

Fonte: G1

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Vera Garcia

Paulista, pedagoga e blogueira. Amputada do membro superior direito devido a um acidente na infância.

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