Educação Inclusiva

Inclusão de alunos com paralisia cerebral no ensino superior: olhar da psicologia

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Convido você, caro leitor, a ler e refletir uma das partes do artigo “Inclusão de alunos com paralisia cerebral no ensino superior: olhar da psicologia” de Alexandre Bosco da Silva Oliveira e Luiza Aline Lopes Rodrigues, ambos da Universidade Potiguar. Gostaria que enquanto estivesse lendo este artigo, refletisse também, sobre o caso do estudante com paralisia cerebral, Ricardo Evandro Souza Ribeiro, que foi discriminado pela Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB).

‘O maior empecilho à sua inclusão é o preconceito social e a consequente falta de aceitação deles (pessoas com deficiência) pela comunidade universitária.”

III- Universidade Inclusiva

Atualmente o tema universidade inclusiva é cada vez mais discutido no âmbito acadêmico científico e por especialistas, devido à sua importância e contribuição para uma sociedade inclusiva. A integração e a inclusão de estudantes com necessidades educacionais especiais nas universidades é o debate a ser compreendido e assumido, implantando-se uma política social séria e educativa. A universidade deve pôr em prática a inclusão dos alunos com deficiência. (RODRIGUES, 2004).

Nos anos 90, parte da comunidade acadêmica, das organizações e instituições sociais de pessoas com deficiência começaram a denunciar a inadequação da prática da integração social para eliminação da discriminação contra as pessoas com deficiência. A integração social se constrói pelo esforço da pessoa excluída e seus colaboradores e aliados, como por exemplo: família, instituição especializada com a ação segregadora e pessoas solidárias da comunidade. Na busca pela igualdade plena de oportunidades para todos, o ideal desejado é a inclusão, ou seja, o efetivo acolhimento da sociedade para com as pessoas com deficiência (SASSAKI, 2006).

Como afirma STAINBACK e STAINBACK: O que está em questão no ensino inclusivo não é se os alunos devem ou não receber, de pessoal especializado e de pedagogos qualificados, experiências educacionais aprimoradas e ferramentas e técnicas especializadas das quais necessitam. A questão está em oferecer a esses alunos os serviços de que necessitam, mas em ambientes integrados, e em proporcionar aos professores atualização de suas habilidades. (1999, p. 25).

Não basta apenas a melhoria da qualidade de vida de todos os alunos, sem distinção de capacidades no ambiente acadêmico, ainda que esta seja uma exigência imprescindível e necessária, mas deve-se partir para uma realidade mais ampla, envolvendo toda a comunidade universitária, provocando uma conscientização desta. A proposta de inclusão deve contar com o envolvimento dos docentes, discentes e do pessoal administrativo. As ações pretendidas devem englobar atividades que aliam o ensino, a pesquisa e a extensão. (UNIVERSIDADE FEDERAL DE PIAUÍ, 2006).

A inclusão precisa ocorrer de forma abrangente e objetiva, respeitando as necessidades de cada aluno, analisando suas possibilidades e particularidades, tornar-se-á mais fácil e justo seu aprendizado como ser individual. (DIAS, 2009). Embora o foco deste trabalho seja a inclusão de alunos com paralisia cerebral, entende-se que a universidade inclusiva é aquela que oferece oportunidades de aprendizagem a todos os seus alunos, tenham eles alguma deficiência ou não.

Especificamente no que se refere ao aluno com deficiência, constata-se que se o acesso ao ensino fundamental é difícil, a situação se repete no ensino superior. Thoma(2006) identificou que o percentual de alunos com deficiência matriculados em 10 IESs do Rio Grande do Sul varia de 0,04 a 0,16%. Atente para o fato de que, de acordo com aOrganização Mundial de Saúde – OMS – as pessoas com deficiência correspondem a10% da população em geral (Valor que tende a ser maior em países subdesenvolvidos como o nosso).

Em sua pesquisa com 12 estudantes universitários – 04 deficientes visuais, 04 deficientes auditivos e 04 com paralisia cerebral – Masini e Bazon (2005), descobriram que, segundo opinião unânime dos entrevistados, o maior empecilho à sua inclusão é o preconceito social e a consequente falta de aceitação deles pela comunidade universitária. Evidenciada em comportamentos como: cobrar menos dos alunos com deficiência visual; não atender/ouvir às solicitações dos alunos deficientes auditivos; se queixar dos alunos com paralisia cerebral por perturbarem a concentração na aula dos outros alunos. Os alunos com paralisia cerebral se sentiam excluídos, queixando-se da falta de auxílio, dificuldade de se relacionar.

Uma faculdade impôs à aluna com paralisia cerebral que ela só se formaria se cursasse apenas até o quarto ano (obtendo somente o grau de bacharel; não o de psicóloga) (MASINI; BAZON, 2005). Essa é uma situação clara de discriminação.

Depreende-se do anteriormente exposto que, o profissional de psicologia precisa intervir prioritariamente no preconceito contra as pessoas com deficiência. É imprescindível que toda a comunidade escolar entenda e reconheça a capacidade das pessoas com deficiência. Quando a instituição de ensino acredita na capacidade de todos e se preocupa em efetivamente democratizar o acesso à educação, mudanças acontecem. MAZZONI; TORRES e ANDRADE (2001) indicam algumas delas: no ingresso nas IES, cuidado na etapa de correção de provas; observar as características da expressão escrita de uma pessoa surda. Ao elaborar as provas, ter atenção às possíveis limitações dos candidatos, decorrentes da deficiência. Para pessoas com deficiência visual, usart extos ampliados, lupas ou outros recursos ópticos especiais para ajudar na leitura; para cegos, realizar provas orais, gravadas ou em Braille, sorobã; para pessoas com deficiência física, adaptar o espaço físico, mobiliários e equipamentos; para pessoas com deficiência auditiva, disponibilizar intérprete de língua de sinais; para pessoas com deficiências múltiplas são utilizadas várias combinações de procedimentos de acordo com o tipo das deficiências associadas.

Ainda no que se refere à inclusão de alunos com deficiência no ensino superior, destaca-se o “Programa Incluir” do Ministério da Educação que tem por objetivo promover ações que garantam o acesso e permanência de pessoas com deficiência nas instituições Federais de educação superior; apoiar a criação, reestruturação e/ou consolidação de núcleos de acessibilidade nas instituições Federais de ensino superior; implementar a política de acessibilidade plena de pessoas com deficiência na educação superior; promover a eliminação de barreiras pedagógicas, atitudinais, arquitetônicas e de comunicações e a efetivação da política de acessibilidade universal. No entanto, das 225 instituições públicas existentes no Brasil, apenas 50 participaram ou participam deste programa, ou seja, apenas 23% do total, e pouco mais de 12% (28 instituições) apresentaram um número igual ou superior a 10 alunos com alguma deficiência matriculados no primeiro semestre de 2006. (ALMEIDA; CASTRO, 2009).

Acesse aqui e veja o artigo completo.

Coloquei alguns trechos do artigo em negrito para destacar.

Veja também nesse blog:
O papel da Universidade frente às políticas públicas para a educação inclusiva

Discriminação e preconceito na Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB)

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Vera Garcia

Paulista, pedagoga e blogueira. Amputada do membro superior direito devido a um acidente na infância.

9 thoughts on “Inclusão de alunos com paralisia cerebral no ensino superior: olhar da psicologia

  • Carolina Câmara

    Oii Vera,
    brilhante o artigo. Eu hoje sou Psicologia, fiz toda a faculdade, todos os estágios, atendi quando tinha que atender, por sinal eu amo atender e vou fazer isso pro resto da minha vida. Mas a faculdade não foi fácil, tentaram me impedir. Tive que ir para outra faculdade, enfim eu e minha familia lutamos, nunca desistimos. Atualmente faço Pós, estou adorando!
    Bjs
    Carol

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  • Alma Inquieta

    Olá Verinha linda!

    Sabes, eu conheço uma pessoa, o Jorge, com paralisia cerebral que está no ensino superior!

    É um exemplo que emociona!

    Um beijo e que tenhas um excelente final de semana.

    Resposta
  • Vera (Deficiente Ciente)

    Imagino sua luta, Carol! Mas o importante disto tudo é que você não desistiu dos seus sonhos. Foi perseverante e valente até o final, e o resultado foi a vitória.
    Você é brilhante! Parabéns a sua familia!
    Com o carinho, incentivo e dedicação da família, vencemos qualquer batalha!

    Beijos, querida!

    Resposta
  • Vera (Deficiente Ciente)

    Olá querida Alma!
    Se a sociedade tivesse a boa vontade de ter mais conhecimento e informações sobre o universo da deficiência, não haveria tanto preconceito e discriminação.

    Beijos, querida!

    Resposta
  • Hana

    Poxa pessoa fantastica vc é, eu vejo aki seus apelos, e vejo leitores com boas intençoes, mas se cada um saissse da boa intenção e fizesse algo realmente, poxa é dificil concientizar as pessoas, que passam por nós com olhares velados de piedade,ou até admiração, mas isso não ajuda, não queremos piedade, nem elogios, queremos solução, eu fico doidinha no meu blog, quando saio visitar outros blog, e vejo postado Dalai Lama, Lao Tsé, se as pessoas leem e adimiram estes mestres pq então elas não praticam os ensinamentos, eu fico doida com isso, da vontade de falar poxa tira seu bubum do sofa para de assistir faustão e vai fazer algo de útil um bem a alguém, não pensar só em seu proprio umbigo, sabe o que me diexa pocessa, quando alguem vai em meu blog e diz, aiiii eu não vou no orfanato ajudar pq tenho pena, ou no asilo pq tenho dó dos velhinhos abandonados, gente k D a conciencia, se cada um de nós formos lá eles não serão mais abandonados, gente se cada um de nós marcamos presensa lá no asilo o mais perto de casa as pessoas não judiariam mais de idosos, pois estão sendo monitorados por nós, cada um de nós tem esta responsabilidade social, e se visitarmos nem que seja de vez em quando um asilo um orfanato, mesmo as pessoas que estão la dentro sendo pagos para cuidar dos idosos e crianças vão faze-lo com mais carinho e se sentir estimuladas a fazer o mesmo, bom amigo desculpa vim ler seu desabafo e acabei desabafando, rssssss, mas esta sou eu, um poço de indiguinação, depois estas pessoas se intitulam normais, pode?Estas pessoa não podem agradecer a Deus por ser normal, tem é que PEDIR PERDÃO A DEUS POR TER SAUDE MAS NÃO TER CONCIENCIA, e tenho dito, kkkkk amiga te adoro e desculpas ta, beijos.
    com muito mas muito carinho
    Hana

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  • Vera (Deficiente Ciente)

    Você tem razão, amiga. Pode desabafar, eu deixo…rs
    Eu não tiro de maneira nenhuma sua razão, Hana. Infelizmente vivemos em uma sociedade individualista, preconceituosa e egoísta. Cada um preocupado com seus interesses. Mas existe muitas pessoas generosas, solidárias e despidas de preconceito, como é o seu caso.

    Beijos, querida!

    Resposta
  • Alexandre Bosco

    Olá pessoal! É com muito prazer que venho participar desse blog fantástico que eu nem sabia que existia, sou um dos autores desse artigo e estou muito feliz pela divulgação, sinto que consegui contribuir para o esclarecimentos de muitas questões a respeito das pessoas com necessidades especiais e para iniciar um amplo debate sobre o tema. Saibam que foi muito difícil elaborar esse artigo, que na verdade originalmente foi a minha monografia de graduação em psicologia, a princípio era um estudo de caso sobre uma colega nossa com paralisia cerebral mas a Universidade não aprovou, aliás gostaria de informar que ela se formou junto comigo, e por final conseguimos, eu e minha amiga Luiza Aline, concluir esse trabalho maravilhoso, cujo já apresentamos em vários congressos no Brasil. Um abraço a todos. “A deficiência não está nas pessoas com necessidades especiais, mas sim na sociedade que impõe dificuldades.” Alexandre Bosco.

    Resposta
  • Vera Garcia

    Alexandre,

    Que honra receber sua visita no blog! Obrigada!
    Na época em que postei seu artigo, estávamos num grande debate em relação ao estudante Ricardo Evandro Souza Ribeiro, pessoa com paralisia cerebral, que foi impedido de estudar na Universidade do Sudoeste da Bahia. A matrícula dele foi indeferida por um erro da própria universidade. Seu texto veio de encontro ao assunto em questão.
    Agradeço novamente a você e a Luiza Aline por essa grande contribuição!

    Abraço.

    Resposta
  • JANAINA TATIANA DO AMARAL

    Boa noite, me chamo Janaina .sou mãe de um rapaz com paralisia cerebral, ele se chama Rafael e entrou na Universidade Federal de São João Del Rei aqui em Minas Gerais. Por sinal é nossa cidade natal ,ele está, fazendo o curso de Jornalismo ,tem 20 anos de idade. Ele é cadeirante, paralisia dele é espástica, tem dificuldade na fala, e na escrita. Mas o cognitivo dele é praticamente 100% ,eu que estou ficando com ele em sala de aula, contrataram uma discente apoio, ela me ajuda com a parte de internet e com os trabalhos das disciplinas Sinto que a faculdade tinha que ter em seus quadros da parte da inclusão uma profissional especialista na educação inclusiva ,e uma profissional em terapia ocupacional, pois nem eu e nem o pessoal da inclusão estamos sabendo qual tecnologia assistiva se adequaria as necessidades do meu filho. Segundo eles a universidade não tem em seus quadros estes profissionais e gostaria me ajudasse onde e como posso procurar ajuda. Desde já agradeço pela atenção.

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