AcessibilidadeDeficiência Visual

Inacessibilidade no Rock in Rio: Por um mundo melhor ou pior para todos?

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Rock in Rio 2011Caro leitor,

Tanto se fala em acessibilidade, mas na prática nada funciona! Se um evento como esse não foi capaz de oferecer o mínimo de acessibilidade, como será na Copa do Mundo de 2014? Por falar na Copa de 2014, e o projeto de acessibilidade no Rio, já foi iniciado?

Tomei conhecimento por meio da querida Lu Jordão, editora do Blog Duas Moda e Arte, sobre o caso da advogada Deborah Prates, pessoa com deficiência visual, que teve  grande dificuldade para assistir um dos shows do Rock in Rio.

Veja primeiro o relato de Lu Jordão e em seguida o de Deborah. Leia atentamente, por gentileza.

Dia 23/09, estava no escritório trabalhando (nas imediações do Rock in Rio) percebendo todo o clima de festa na cidade e preocupadíssima com meu deslocamento para casa… Isso! Não curto tumulto! Meu celular toca e era minha querida amiga Deborah Prates, usuária de cão guia, pedindo-me auxílio em informações pouco ou nada claras para acessar o Rock in Rio! Vinha com a filha de 17 anos curtir o maior evento musical da cidade maravilhosa. Neste dia, teve a informação de que o seu táxi a deixaria bem distante do evento…

Pesquiso pra cá, site do evento, e-mail para a organização querendo saber se havia alguma orientação especial para que Deborah pudesse acessar o evento com tranqüilidade. Nenhuma resposta! No site, informações imprecisas… Conversei com Deborah por telefone que me afirmou: “Lu, vou no peito e na raça! Depois te relato como foi… Mas, um evento desse porte, certamente vai prezar por acessibilidade!”

Infelizmente Deborah comprovou o contrário – falta de acessibilidade, falta de respeito, de preparo, de conhecimento, de calor humano! Segue relato que me conquista pela ausência de rancor… Um relato cercado de bom humor de uma pessoa que vive intensamente, que é feliz e que “coloca a boca no trombone” por um mundo melhor! Recebi nesta manhã e decidi compartilhar com o maior número de pessoas possível!

Sabem o que mais me surpreendeu? Minha conversa de 37 minutos com Deborah me descrevendo como se divertiu no show, o que mais gostou, o melhor espetáculo do dia e sua realização por ter participado com a filha adolescente de seu primeiro Rock in Rio… Eu, de minha zona de conforto e longe da multidão, senti o evento através do relato de Deborah Prates… Eu vendo da TV e ela ao vivo… Trocamos impressões, opiniões, sentimentos sobre o evento.

Porém, entendo que não se pode deixar este desrespeito com o próximo passar desapercebido.

Sendo assim recorro a esta rede tão especial de amigos para apresentar o relato de Deborah Prates. Caso achem viável, solicito que divulguem. Estarei publicando em meus dois blogs de moda! Será publicado também no blog da Deborah, com endereço ao final do texto.

Esse é um lado do Rock in Rio, que se não for através de nós, jamais será conhecido!!

POR UM MUNDO “PIOR” PARA TODOS!

Por Deborah Prates

Coração batendo a mil na manhã do dia 23/9, ainda mais com a previsão de tempo chuvoso no 1º dia do ROCK IN RIO. Uma honra curtir com minha filhota de 17 anos esse momento que, há tempos atrás, tinha experimentado. Como cega tratei logo de conferir a acessibilidade para que tudo continuasse encantador. Então, foi que tremi nas bases com o que percebi que iríamos enfrentar. O clima mudou para o de enduro. Com base na nossa legislação – ante a dificuldade/irregularidade do terreno – foi que tentamos com vários taxistas chegar ao portão do evento. Os guardas locais disseram NÃO em quaisquer hipóteses. Desumano, já que o terreno é totalmente irregular para qualquer deficiência. Fingem desconhecer os Organizadores a lição do filósofo Aristóteles que sugere sejam tratados os desiguais na medida de suas desigualdades. Até o 1º portão tivemos que andar 1,5 km. Sozinha não conseguiria. Pesquisamos no site e ficamos felizes com a existência de um portão especial. Remetia ao último portão do lado esquerdo extremo, tomando-se a entrada principal da Cidade do Rock. Como saber qual o último portão? Um cego jamais o encontraria! Ao encontrar o portão principal, perguntamos pelo especial. Claro que eu poderia entrar pelo principal, mas quis o meu! Nem os seguranças – com rádio – souberam informar. Diziam: “ACHO que fica lá na frente! Vocês vão andando que, certamente, é para lá”! Perguntei se havia alguém para caminhar com o deficiente até o local. Óbvio que não! O fluxo das pessoas terminou no principal, onde todos entraram. Daí por diante fomos na sorte. Loucura! Quase desistindo, um novo preposto disse ser “PASSANDO AQUELE VIADUTO”! Que alegria! Ao entregarmos os ingressos indagamos pelo banheiro mais próximo. Ouvimos: “NEM IMAGINO! ACHO QUE É ALI DEBAIXO DA RODA GIGANTE”! Minha filha foi quem avistou um químico. O local para lavar as mãos era fora e com um bom degrau. Naquela pia não havia rampa. Talvez em outras! Ainda com fôlego tentamos chegar ao local destinado aos CADEIRANTES, dando direito a um acompanhante. Absurdo! Será que os outros segmentos não tinham igual direito?

Como cega também quis achar esse paraíso! Mais de dez prepostos não souberam encontrar o setor. Até nos estandes perguntamos e as respostas pareciam combinadas: “VAMOS CHAMAR UM PROMOTOR DO EVENTO”. Desistíamos de esperar. E a festa rolava. Novamente tivemos que vestir a fantasia de “BOBOS DA CORTE”! Um BOMBEIRO informou que estava no evento desde a sua CONSTRUÇÃO e desconhecia esses locais. Aduziu que vários cadeirantes e deficientes já haviam lhe feito a mesma pergunta. Constrangido, disse que FISICAMENTE esses locais não existiam. MUITO GRAVE A INFORMAÇÃO! As toneladas de som ecoavam. A galera cantava!  Para minimizar os acidentes geográficos do terreno, rampas revestidas com grama artificial foram feitas sem o menor critério de acessibilidade. Sim. De qualquer maneira! “EEE, VIDA DE GADO… POVO MARCADO. POVO FELIZ”! Algumas permitiam acesso aos cadeirantes, outras nem mesmo para os cegos com suas bengalas! Propaganda feia e enganosa dos DRS. Organizadores! Constatamos total falta de acessibilidade física, de informação/comunicação e atitudinal. Falso é o slogan: “POR UM MUNDO MELHOR PARA TODOS”. Ao invés de alardearem plantio de árvores, deveriam os organizadores REFLORESTAR OS PRÓPRIOS CÉREBROS! Dever-se-ia investir na “SUSTENTABILIDADE HUMANA”! Bem, no tom: “ME ENGANA QUE EU GOSTO”, mais consistente para o Planeta seria repetirmos o antônimo da proposta, qual seja: POR UM MUNDO “PIOR” PARA TODOS! QUERO MEU CÉREBRO VERDE!

Carinhosamente,

DEBORAH PRATES – (Advogada, usuária de cão guia, Delegada da CDPD/OAB/RJ)

No twitter: @deborah_jimmy

E-mail: deborahbprates@gmail.com

Blog: www.deborahpratesinclui.blogspot.com

*** REFLITAMOS SOBRE UM PENSAMENTO DE AUTOR DESCONHECIDO: “SOMOS TODOS ANJOS DE UMA ASA SÓ. PRECISAMOS NOS ABRAÇAR PARA PODER VOAR”!

Esboço da cidade do Rock: o projeto foi orçado em 40 milhões e será um local permanente para futuros eventos no Rio de Janeiro.
Esboço da cidade do Rock: o projeto foi orçado em 40 milhões e será um local permanente para futuros eventos no Rio de Janeiro.
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Vera Garcia

Paulista, pedagoga e blogueira. Amputada do membro superior direito devido a um acidente na infância.

3 thoughts on “Inacessibilidade no Rock in Rio: Por um mundo melhor ou pior para todos?

  • É bagunçado demais mesmo, mas é mais por má-vontade da organização que por qualquer outra coisa. E hoje com tanto acesso à informação é só algum promotor estralar os dedos que aparecem uns 10 cegos e cadeirantes para explicar qualquer dúvida que ele tenha sobre a acessibilidade necessária a um evento desse porte…

    Resposta
  • Rubem Ferreira de Melo

    Sou cadeirante e já enfrentei situações semelhantes no que se refere a acessibilidade, infelizmente mesmo com tantas normas e leis ,ainda se burle tais leis, com certeza existe conivência de autoridades, pois em novas construções para se liberar um alvará de funcionamento se passa por vistorias… bombeiros e etc, O que nos resta é denuciarmos e tornar pública nossa indignação … só assim um dia seremos ouvidos e respeitados nos nossos direitos, porque, deveres temos muitos e sempre procuramos cumprí-los .
    abraço

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  • Flavio Henrique Fabiano

    Como muito já foi dito por DEBORAH PRATES , estive eu também no RIR assim deveria ser chamado o evento onde paguei caro para ver artistas que talvez não tenha mais chance de ver em terrar tupiniquins .
    Sou de São Paulo e só me entecerei em ir a tal evento quando este anunciou este dia extra , em uma quinta feira 29 de setembro . Para isso valeria o esforço de me locomover até o Rio de ônibus de viagem , uma vez que fiz uma operação de grande porte a a três meses atraz e os médicos me proibiram de pegar avião .
    Tudo que a Deborah relatou é fato , que fiz questão de documentar através de fotos , como ela eu jamais poderia ter andado 1,500 km de distância até a entrada , uma vez que sou desarticulado e uso muleta e para agravar isso tudo fiz uma pneumonectomia de pulmão esquerdo e ainda estou em fase de recuperação .
    Ao chegar ao local de desembarque, logo questionei os responsáveis do evento ali tendo como resposta as famosas ( não sei ou não tem ) . Logo avisei que acessibilidade é lei e não favor citando as leis federais que me garantem tal direito e a eles o dever .Nada resolvido procurei a policia militar que assim que informei a situação um tenente me acompanhou até o local fazendo com que os produtores se comunicassem com a central , tendo como resposta que estaria vindo uma van para este serviço ,mas talvez demorasse devido ao trânsito . Decorrido um período de 1.20 h questionei de novo com o tenente e como única resposta é que eles poderiam me encaminhar a uma delegacia mais próxima para fazer um BO sobre o assunto .
    Neste momento um pai com o filho que também era deficiente me chamou e disse que descobrira uma van especial que estava ali o tempo todo só que ninguém sabia .
    Terminada essa longa batalha para obter os devidos direitos, cheguei ao local do evento e lá encontrei tudo o que a Deborah já havia encontrado a dias atrás .
    Eu não sei como a prefeitura do Rio dá licença para um evento deste porte com tantas irregularidades e total falta de conhecimento das regras básicas da ABTN que é garantida por lei federal .Ou será que o Rio não faz parte da federação .
    Tentei entrar em contato com a secretaria da PNE da cidade e descobri que só pode que tem residência no Rio .
    Em São Paulo já encontrei muitas irregularidades, mas todas sanadas assim que denunciadas aos devidos órgãos da cidade ou estado .
    Espero que se faça algunha mudança uma vez que teremos olimpíadas em 2016 , e com ela vem as paraolimpíadas, fazendo o país tornar-se piada mundial pela falta de capacidade de organização .
    Boa sorte a vcs da cidade maravilhosa…

    Resposta

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