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Estudante com paralisia cerebral se forma em Psicologia e destaca apoio da UFSM

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Desde a infância, o sonho de Thays Ribeiro Lauz era estudar. Aos cinco anos, em uma escola em Santana do Livramento (RS), se despedia feliz da mãe no primeiro dia de aula. Thays, que teve paralisia cerebral devido a um atraso no seu nascimento, lembra que foi uma época tranquila, com muitos amigos, colegas e professores que a queriam bem. “Sempre me trataram com muito respeito, me amaram incondicionalmente. Lembro que me chamavam de ‘meu bebê’, porque eles adoravam me carregar de cadeira, sempre tentando me auxiliar”, recorda.

A partir do ensino fundamental, o sonho de Thays amadureceu: queria ser psicóloga. Em um passeio descobriu a UFSM (Universidade Federal de Santa Maria), em seu terceiro ano do ensino médio, decidiu onde realizaria o desejo de se formar na área. A santanense conquistou uma vaga na Universidade em 2014 e começou a concretizar seu sonho no ano seguinte. “Sempre fui aquela pessoa que os amigos procuram para conversar, que sempre entende, que é bem comunicativa. Então, eu sempre me vi na profissão. Hoje, não optaria por outra coisa”, ressalta.

Mas para realizar sua meta de ser psicóloga, foi preciso muita dedicação, força de vontade e também um apoio fundamental prestado pela UFSM. Desde o primeiro ano da faculdade, Thays morou com a mãe, Márcia Ribeiro, na Casa do Estudante (CEU II), no campus de Santa Maria. É a mãe que a auxilia em todas as atividades diárias, já que a deficiência se caracteriza por danos a partes do cérebro que controlam os movimentos musculares. Ela consegue escrever, mas tem dificuldades para outros movimentos. Para se locomover, utiliza uma cadeira de rodas elétrica.

Após cinco anos de graduação, Thays se formou em Psicologia na noite desta sexta-feira (24), em solenidade no Auditório Wilson Aita, no Centro de Tecnologia (CT). Foram anos de muito acolhimento, apoio e cuidado, ressalta constantemente a cadeirante. Além de conquistar a amizade de colegas, atingiu também o coração de seus professores. “Vou sentir falta disso”, diz, destacando, orgulhosa, que concluiu o curso no tempo certo, sem atrasar nenhuma cadeira.

O Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) foi realizado a campo, com entrevistas a 300 estudantes pelo campus. Denominado “Relações entre os cinco fatores da personalidade com qualidade de vida e expectativa de padrão de vida em universitários”, o trabalho é voltado para a psicologia econômica. Agora, o objetivo é seguir na área defendida no TCC, realizar intercâmbio e morar fora do Brasil, onde as questões de acessibilidade são mais trabalhadas.

Porém, apesar de ter em mente mais um sonho a ser concretizado, conta que sentirá bastante falta da UFSM, desde o espaço físico – o bosque que tanto adora -, a Casa do Estudante, as pessoas. “Com certeza vou sentir falta disso, e da minha turma também”, destaca a recém-formada psicóloga, para quem a paralisia nunca foi um empecilho. Ela diz que sempre se enxergou como uma pessoa normal, e sua família também. “Não sou acostumada a ser tratada como uma deficiente. Eu tenho uma tia que sempre diz que na vida tudo tem um jeito, a única coisa que não tem jeito é a morte. E sempre fomos dando um jeito”, afirma.

Thays teve assistência da UFSM durante todo o curso

Desde seu ingresso na UFSM, Thays foi acompanhada pelo Núcleo de Acessibilidade, tendo inúmeras demandas atendidas, conforme relata a técnica em assuntos educacionais Fabiane Vanessa Breitenbach. Considerando as dificuldades de mobilidade, foi adaptado um quarto na CEU II para a aluna, e a mãe foi autorizada a residir com ela no local.

Thays contou com transporte interno em dias de chuva – o serviço de transporte da UFSM a atendeu durante os quatro anos da graduação – e externo em atividades curriculares. Como nem todos os veículos da frota são acessíveis, a Universidade garantiu a locomoção da estudante em várias atividades práticas do curso em espaços externos ao campus sede.

“Eles me ajudaram muito. Eu ligava, no mínimo, uma vez por mês para falar alguma coisa”, reconhece Thays, ressaltando todo o apoio oferecido pelo Núcleo, pela Pró-Reitoria de Assuntos Estudantis (Prae) e pela Pró-Reitoria de Infraestrutura (Proinfra), que providenciavam suporte a ela sempre que necessário.

Além disso, Thays teve à disposição atendimento educacional especializado, atendimento psicológico e com terapeuta ocupacional, oferecidos pelo Núcleo de Acessibilidade e pelo Núcleo de Apoio à Aprendizagem, que fazem parte da Coordenadoria de Ações Educacionais (Caed) da UFSM, juntamente com o Núcleo de Ações Afirmativas Sociais, Étnico Raciais e Indígenas.

Texto: Eloíze Moraes, acadêmica de Jornalismo, bolsista da Agência de Notícias
Edição: Ricardo Bonfanti, jornalista da Agência de Notícias
Fotos: Arquivo pessoal
Fonte: https://www.ufsm.br/

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Vera Garcia

Paulista, pedagoga e blogueira. Amputada do membro superior direito devido a um acidente na infância.

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