ComportamentoSíndromes

‘É meu presente’, diz mãe adotiva de menino indígena com Down

Compartilhe:
Pin Share

Menino da etnia Cinta Larga escapou da morte e foi adotado por mulher. Mãe relata que o convívio com o filho especial a tornou mais serena e forte.

Mãe e filho índio cinta larga adotado em Cuiabá. (Foto: Dhiego Maia/G1)
Mãe e filho índio cinta larga adotado em Cuiabá. (Foto: Dhiego Maia/G1)

Uma adoção mudou o rumo de uma família em Cuiabá e de um bebê indígena que estava fadado desde as primeiras horas de vida a ser sacrificado por ter nascido com Síndrome de Down. Quando se lembra do esforço que precisou ter para ser mãe adotiva do pequeno Antônio, hoje com sete anos, a psicopedagoga Beatriz Mello, de 56 anos, diz que faria tudo de novo só para ter a chance de salvar a vida do filho que é da etnia Cinta Larga.

“Foi uma escolha muito forte. Até pela minha formação eu sempre desejei ser mãe de uma criança com down. Eu fiz dar espaço para isso e recebi o meu maior presente, um ‘pacotinho especial’ que me dá alegria diariamente”, diz Mello.

O ‘pacotinho especial’ de Beatriz vem ao longo dos anos contrariando as previsões médicas mais pessimistas. Além de ser down, Antônio é surdo e, por consequência, não fala e tem respiração limitada devido a um problema pulmonar grave. Há um ano, ele recebeu um implante de um aparelho no ouvido e já começa a reproduzir na fala os sons que ouve. Beatriz contou à reportagem que se emocionou quando observou o filho se esforçando para falar a palavra mamãe.

“Ele falou ma, ma, ma. Foi uma emoção muito grande”, recorda.

Superação

Os quatro primeiros anos de vida do garoto não foram fáceis. Antônio passava meses internado. Beatriz diz que o esforço, na época, era para mantê-lo vivo. Ela se emociona quando recorda do momento mais difícil quando pensou que Antônio não sobreviveria a mais um período no hospital. Em Maceió, a capital de Alagoas, o rim e o fígado de Antônio entraram em colapso.

“Eu disse bem próxima ao ouvido dele que se ele tivesse que nos deixar, a passagem dele seria iluminada. Mas que se ele quisesse ficar com a gente, ele receberia muito amor”, afirma.

Antônio saiu do coma e, um mês depois, deixou o hospital. “Ele optou pela vida sempre sorrindo, com bom humor. Meu filho é um guerreiro”, completa Beatriz.

Mãe de outras três filhas, a psicopedagoga conheceu a história do bebê que se tornaria o filho caçula dela por meio de uma reportagem exibida em 2005 pela TV Centro América, afiliada da Rede Globo em Mato Grosso. À época, Antônio estava debilitado e precisava fazer uma cirurgia. Ele era o 12º filho de um casal de índios que vivia em uma aldeia localizada na zona rural de Aripuanã, cidade distante a 976 quilômetros de Cuiabá.

A mãe biológica do garoto temendo que o filho pudesse ser sacrificado por conta da deficiência contrariou a tradição e entregou o menino para a Fundação Nacional do Índio (Funai). “Essa mulher foi muito corajosa porque ela sabia que se ele ficasse por lá não sobreviveria até pelas condições da aldeia que não tinha nem energia elétrica”, revela Beatriz.

Menino era o 12º filho de um casal indígena na cidade de Aripuanã. (Foto: Dhiego Maia/G1)
Menino era o 12º filho de um casal indígena na cidade de Aripuanã. (Foto: Dhiego Maia/G1)

Da chegada de Antônio a Cuiabá para o primeiro tratamento médico até obter a guarda provisória dele foram dois meses de espera, conta Beatriz. Ele foi levado para a casa dela ainda debilitado e recebendo cuidados em uma ‘homecare’. A guarda definitiva só foi expedida quatro anos depois.

Da convivência com o filho especial, diz Beatriz, ela aprendeu a ser mais serena e forte. “O meu crescimento como pessoa é incrível. Eu sempre achei que faltava em mim o dom da paciência. Depois do Antônio me tornei mais tolerante e serena. Os valores que a gente têm na vida mudam, não tem jeito. Acasos acontecem por conta de um acaso ainda maior”, revela.

Antônio ainda continua cercado de cuidados por ter uma saúde frágil. Ele faz fisioterapia respiratória duas vezes por dia e ainda está aprendendo a se comunicar com o auxílio de uma fonoaudióloga. A meta de Beatriz é tornar o filho o mais independente possível.

Cinta Larga

Os índios da etnia Cinta Larga estão espalhados em aldeias pelos estados de Mato Grosso e Rondônia. Dados da Funai apontam que a etnia possui 1.757 integrantes. A comitiva do Marechal Cândido Rondon foi a primeira a fazer contato com os Cinta Larga, em 1915. A intensa pressão econômica na região em que está inserida por conta da atividade garimpeira fez a população da etnia reduzir consideravelmente ao longo dos anos.

Fonte: Dhiego Maia, G1

Compartilhe:
Pin Share

Vera Garcia

Paulista, pedagoga e blogueira. Amputada do membro superior direito devido a um acidente na infância.

3 thoughts on “‘É meu presente’, diz mãe adotiva de menino indígena com Down

  • Fátima Ferraz

    Emocionante, essa é uma MÃE verdadeira, de amor, fé e coragem…. Linda história, lindo coração! Parabéns pela sua atitude e por saber realmente o significado da palavra MÃE… Que Deus os ilumine sempre…

    Resposta
  • Lucimara

    parabéns para o Antonio e para a mãe Beatriz, emocionante a historia, também sou mãe de uma menina com síndrome down, a Renata, 9 anos, realmente estes seres especiais só nos ensinam a viver melhor, a poucos dias a inscrevi no instituto veras de reabilitação, por intermédio de outra mãe aqui do noroeste do paraná, o método me parece ser muito bom, pois se trata de um treinamento para a família, visite o site http://www.veras.org.br e se informe com detalhes, as coisas boas infelizmente não são divulgadas como deveriam, só agora é que fiquei sabendo, mas acredito não ser tarde para começar. nossos filhos já são inteligentes dimais, imagina com as técnicas certas. abraços , felicidades. Lucimara

    Resposta
  • Luiza

    Que Deus possa abençoar grandemente essa mulher ….

    Resposta

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

error: Content is protected !!

Damos valor à sua privacidade

Nós e os nossos parceiros armazenamos ou acedemos a informações dos dispositivos, tais como cookies, e processamos dados pessoais, tais como identificadores exclusivos e informações padrão enviadas pelos dispositivos, para as finalidades descritas abaixo. Poderá clicar para consentir o processamento por nossa parte e pela parte dos nossos parceiros para tais finalidades. Em alternativa, poderá clicar para recusar o consentimento, ou aceder a informações mais pormenorizadas e alterar as suas preferências antes de dar consentimento. As suas preferências serão aplicadas apenas a este website.

Cookies estritamente necessários

Estes cookies são necessários para que o website funcione e não podem ser desligados nos nossos sistemas. Normalmente, eles só são configurados em resposta a ações levadas a cabo por si e que correspondem a uma solicitação de serviços, tais como definir as suas preferências de privacidade, iniciar sessão ou preencher formulários. Pode configurar o seu navegador para bloquear ou alertá-lo(a) sobre esses cookies, mas algumas partes do website não funcionarão. Estes cookies não armazenam qualquer informação pessoal identificável.

Cookies de desempenho

Estes cookies permitem-nos contar visitas e fontes de tráfego, para que possamos medir e melhorar o desempenho do nosso website. Eles ajudam-nos a saber quais são as páginas mais e menos populares e a ver como os visitantes se movimentam pelo website. Todas as informações recolhidas por estes cookies são agregadas e, por conseguinte, anónimas. Se não permitir estes cookies, não saberemos quando visitou o nosso site.

Cookies de funcionalidade

Estes cookies permitem que o site forneça uma funcionalidade e personalização melhoradas. Podem ser estabelecidos por nós ou por fornecedores externos cujos serviços adicionámos às nossas páginas. Se não permitir estes cookies algumas destas funcionalidades, ou mesmo todas, podem não atuar corretamente.

Cookies de publicidade

Estes cookies podem ser estabelecidos através do nosso site pelos nossos parceiros de publicidade. Podem ser usados por essas empresas para construir um perfil sobre os seus interesses e mostrar-lhe anúncios relevantes em outros websites. Eles não armazenam diretamente informações pessoais, mas são baseados na identificação exclusiva do seu navegador e dispositivo de internet. Se não permitir estes cookies, terá menos publicidade direcionada.

Visite as nossas páginas de Políticas de privacidade e Termos e condições.

Importante: Este site faz uso de cookies para melhorar a sua experiência de navegação e recomendar conteúdo de seu interesse. Ao utilizar nosso site, você concorda com tal monitoramento.