Empresas que Contratam PCD: Quem Cumpre a Cota e Quem Faz Inclusão de Verdade?
Desde 1991, a Lei de Cotas (Lei nº 8.213) obriga empresas com 100 ou mais funcionários a destinarem de 2% a 5% de suas vagas a pessoas com deficiência. Apesar dos mais de 30 anos de vigência da legislação, a presença efetiva de pessoas com deficiência no mercado de trabalho ainda é baixa e, muitas vezes, simbólica.
O que se vê, em muitos casos, é a priorização da contratação de pessoas com deficiências consideradas “leves” ou de menor impacto funcional — como deficiências auditivas parciais ou monocularidade —, em detrimento da inclusão de pessoas com deficiências intelectuais, múltiplas ou severas. Isso revela uma prática que, embora cumpra formalmente a Lei de Cotas, não promove a inclusão plena e equitativa.
Essa realidade evidencia uma lacuna entre o discurso institucional das empresas e as vivências das pessoas com deficiência. Contratar para preencher número não é o mesmo que incluir de forma digna, respeitosa e estruturada.
Em meio a esse cenário, uma nova pesquisa lança luz sobre as empresas que têm ido além da obrigação legal e implementado ações concretas para a inclusão de pessoas com deficiência em seus ambientes de trabalho.
Estudo destaca empresas que investem em inclusão real
Uma pesquisa conduzida pelo portal Integridade ESG, em parceria com o Insight Lab, revelou as 50 empresas brasileiras com as melhores práticas de inclusão de pessoas com deficiência. O levantamento foi divulgado com exclusividade pela revista Exame.
Entre 2019 e 2024, foram analisadas milhares de informações públicas de mídias, relatórios de sustentabilidade, redes sociais e outras fontes institucionais. A partir desses dados, foram aplicados algoritmos de inteligência artificial para cruzar informações, gerar índices e ranquear as empresas com ações mais relevantes voltadas às PcDs.
Este trabalho tem como pano de fundo uma realidade social alarmante: o Brasil possui cerca de 18,6 milhões de pessoas com algum tipo de deficiência, o que representa 8,9% da população, segundo o IBGE (2023). Mesmo assim, o acesso ao trabalho digno e à autonomia financeira ainda é limitado para a maioria desse grupo.
Por que algumas empresas se destacam?
O diferencial das empresas listadas está no comprometimento que vai além da cota legal. São organizações que desenvolvem programas estruturados, investem em acessibilidade, capacitação, comunicação inclusiva, produtos adaptados e ações afirmativas de diversidade.
Entre os destaques do ranking estão:
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Mercado Livre, que ocupa o primeiro lugar, promove eventos de empregabilidade e parcerias com o setor público para facilitar o acesso ao mercado de trabalho por pessoas com deficiência.
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Banco do Brasil, em segundo, oferece soluções como o cartão BB Voz e linhas de crédito para tecnologias assistivas, além de capacitação interna.
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Petrobras, em terceiro lugar, reserva 20% das vagas de concursos públicos para pessoas com deficiência e mantém uma política ampla de diversidade.
Outras empresas que se destacaram:
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Sicoob, com projetos sociais e esportivos inclusivos;
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ArcelorMittal, com grupos de afinidade e ações contínuas de valorização das PcDs;
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E gigantes como Bradesco, TIM, Nubank, SAP e Shell, que ampliam suas frentes de diversidade e acessibilidade.
Ranking das 50 Empresas Mais Inclusivas para Pessoas com Deficiência
Os índices foram organizados em ordem decrescente, conforme o grau de destaque das ações corporativas identificadas no estudo:
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Mercado Livre – índice 28,392
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Banco do Brasil – índice 22,499
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Petrobras – índice 14,519
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Sicoob – índice 13,081
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ArcelorMittal – índice 11,539
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TIM – índice 10,758
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Bradesco – índice 10,349
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Pepsico – índice 9,964
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Nubank – índice 8,458
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B3 – índice 7,516
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SAP – índice 7,054
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Shell – índice 7,053
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Volkswagen – índice 6,882
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Santander – índice 6,591
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Suzano – índice 6,029
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Embrapa – índice 5,683
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Unilever – índice 5,272
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Nestlé – índice 4,749
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Dasa – índice 4,683
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IBM – índice 4,645
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Embraer – índice 4,437
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C6 Bank – índice 3,959
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Gerdau – índice 3,895
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Itaipu – índice 3,797
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BRF – índice 3,713
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Sicredi – índice 3,538
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Stellantis – índice 3,509
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Honda – índice 3,469
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L’Oréal – índice 3,301
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Klabin – índice 3,159
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Pfizer – índice 3,114
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Hospital Sírio-Libanês – índice 3,110
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Cemig – índice 2,983
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Boticário – índice 2,982
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CBA – índice 2,764
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WEG – índice 2,613
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Neoenergia – índice 2,567
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Cielo – índice 2,557
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Itaú Unibanco – índice 2,305
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CS – índice 2,304
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Raízen – índice 2,136
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BYD – índice 1,977
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Raia Drogasil – índice 1,821
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Sanepar – índice 1,753
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Minerva Foods – índice 1,588
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Localiza – índice 1,545
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CPFL Energia – índice 1,544
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EDP – índice 1,426
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Energisa – índice 1,331
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Renault – índice 1,317
Reflexão final: o que é inclusão de verdade?
O estudo divulgado pela Revista Exame é importante, pois joga luz sobre práticas corporativas que merecem ser reconhecidas e replicadas. Contudo, é preciso manter uma postura crítica: ranking, reputação e marketing não são sinônimos de inclusão verdadeira.
Uma empresa pode estar no topo da lista e, ainda assim, deixar de contratar pessoas com deficiências severas, negligenciar adaptações reais no ambiente ou não oferecer oportunidades de crescimento profissional para esses colaboradores.
A inclusão que importa não é a que “cumpre cotas”, mas a que transforma mentalidades, combate o capacitismo estrutural e garante dignidade no trabalho.
Enquanto a maior parte das oportunidades estiver restrita a poucos perfis de deficiência, estaremos longe da equidade. O desafio agora é ampliar o debate, cobrar ações consistentes e garantir que todas as deficiências sejam vistas, respeitadas e incluídas com justiça.
As informações deste texto são da Revista Exame, com base no estudo do portal Integridade ESG e Insight Lab (2024).
Por Blog Deficiente Ciente