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Jogos Paralímpicos-Rio 2016: um teste olímpico para a “acessibilidade” brasileira

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acessibilidade nas paralímpiadasA competição denominada “Jogos Paralímpicos de Verão” ou de “Jogos da XV Paralímpiada de Verão” receberá a atenção dos brasileiros entre os dias 7 e 18 de setembro do corrente ano na cidade do Rio de Janeiro. (Cabe salientar que ocorre pela primeira vez na América Latina)

Participarão 4350 atletas de 175 países, que durante 11 dias disputarão 528 provas com medalhas…(226 femininas, 38 mistas e 264 masculinas)…

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Serão 22 esportes distintos, aparentemente um tanto ousados quanto apropriados…(Atletismo, basquete em cadeira de rodas, bocha, canoagem, ciclismo, esgrima, futebol de cinco, futebol de sete, goalball, halterofilismo, hipismo, judô, natação, remo, rugby em cadeira de rodas, tênis de mesa, tênis em cadeira

Mas o que são as PARALIMPÍADAS?

Bem, e na expectativa de que as palavras saiam da boca para que novos ouvidos as escutem, podemos dizer que é a oportunidade social de elevar a autoestima, direta ou indiretamente de pessoas com deficiências…(Tradicionalmente discriminadas e desmotivadas pela sociedade dita “não deficiente”)…um “momento” desta parcela da sociedade ofertar seu valor não somente como atleta, mas prioritariamente como cidadão.

Os jogos “Paralímpicos” iniciaram em 1960 na cidade de Roma/Itália……e são disputadas a cada quatro anos, nos mesmos locais onde são realizadas as tradicionais “Olimpíadas”.

As modalidades esportivas são divididas em categorias funcionais de acordo com a limitação de cada atleta e sua competividade, para que haja equilíbrio…são atletas com lesão medular, poliomielite, amputação de pernas e de braços, deficiência visual e mental.

OBS1: os surdos não participam dos jogos “Paralímpicos”. (Bem, creio ser “elegante” não aprofundar este tema, pois um cheiro desagradável poderia infiltrar-se no ambiente)

Aaah! E negando que sou uma pessoa fofoqueira ou ranzinza – mas talvez um cidadão queixoso -, informo de forma “frustrante” que a Confederação Brasileira Desportiva dos Surdos não recebe verbas governamentais para suas atividades…

OBS2: As “Surdolimpíadas” realizam-se desde 1924 em diversos países. A próxima será realizada em 2017, em Ankara, na Turquia.

Por outro lado, segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) – com base no Censo Demográfico 2010 -, mais de 45,6 milhões de brasileiros têm alguma deficiência…18,8% tem deficiência visual; 7% tem deficiência motora; 5,1% tem algum grau de surdez e 1,4 % tem deficiência mental e intelectual.

Mas peço desculpas ao leitor por este pequeno desvio útil com informações estatísticas (que aparentemente não estão relacionadas )…mas sinto-me confiante de que uma vez absorvidas, serão de grande utilidade para o entendimento do assunto.

Não é novidade que nos centros urbanos encontramos calçadas estreitas e sem pisos táteis, além de obstáculos como postes, tapumes e árvores (Mas isso é apenas parte da história, e nem mesmo a pior parte)

…e que também há falta de rampas de acesso e desníveis dos pisos; sem contar com o funcionamento irregular de equipamentos como elevadores e escadas rolantes em espaços públicos. (São alguns dos transtornos nas diversas capitais brasileiras que tornam difícil o deslocamento de pessoas com deficiência)

Em certas situações as “boas intenções” tornam-se bem mais perigosas do que as “más intenções”. Uma “má intenção” pode ser imediatamente visualizada, mas a “boa intenção” é por vezes dissimulada e duvidosa…

Quando a cidade do Rio de Janeiro foi escolhida para sediar a “Paralimpíada 2016”, a “acessibilidade” foi um dos principais pré-requisitos a serem alcançados pela comissão…

…foi exigido que houvesse também no momento da realização do evento, condições favoráveis de acessibilidade aos espaços externos e edifícios da cidade sede…

…e que “tal” não fosse exclusividade dos locais das competições.

A cidade escolhida teria que atentar obrigatoriamente de forma igualitária os espectadores, com ou sem deficiência…(O objetivo é de que todos tenham a mesma experiência dos eventos)

…e estes são alguns dos pré-requisitos mencionados:

  • rotas acessíveis, facilitado por rampas e travessias,
  • nivelamento das vias e calçadas, assim como o seu revestimento,
  • retirada das interferências nos passeios, como os bancos,
  • existência de banheiros adaptados e elevadores para cadeirantes,
  • comunicação e sinalização tátil,
  • readequação das vagas de estacionamento e pontos de ônibus,
  • guias de balizamento (que é o elemento edificado ou instalado junto aos limites laterais das superfícies do piso, destinado a definir claramente os limites da área de circulação de pedestres, detectado por pessoas com deficiência visual);
  • sinalização em “braile” (que é um sistema de leitura através do tato, para cegos),
  • assentos destinados a pessoas em cadeira de rodas, obesos e com mobilidade reduzida nos locais dos eventos,
  • ciclovias adequadas;
  • ônibus com pisos antiderrapantes e sinalização sonora além de espaços exclusivos para cadeirantes em seu interior, como assentos para pessoas com mobilidade reduzida e pessoas com cão-guia (os locais dos jogos e os demais devem conter também espaços para cães-guias),
  • as acomodações dos hotéis devem apresentar quartos acessíveis,
  • disponibilidade das equipes multidisciplinares – composta por fisioterapeutas, fonoaudiólogos, terapeutas ocupacionais, psicólogos, assistentes sociais, pedagogos, intérpretes de libras e instrutores de oficinas especializados…
  • os pontos turísticos, ginásios e as vilas olímpicas devem satisfazer o conceito de inclusão…

(Com poucos erros malignos, confio que citei algumas das principais condições)

O objetivo maior é preparar a cidade para os atletas, e também para quem mora e visitará a cidade do Rio de Janeiro. Mas creio que a cidade apresenta ainda inúmeros DESAFIOS (muitos insuficientemente conhecidos), para tornar-se acessível…

Dizem que entre os principais problemas ainda pendentes, estão a ausência de quartos adaptados em hotéis três estrelas – que são mais baratos – e a dificuldade alarmante da mobilidade urbana…há baixa acessibilidade em locais considerados cartões-postais, como o Cristo Redentor, e igualmente em diversas praias da cidade – a famosa praia de Copacabana é uma delas.

O acesso ao estádio do Maracanã (onde se realizará a abertura da “Olimpíada” e da “Paralimpíada”) está com dificuldades para a entrada e saída de pessoas…a rampa que liga o “estádio” ao metrô está com inclinação fora das normas (o que torna arriscado para cadeirantes e pessoas com baixa mobilidade), o Corcovado, onde fica o Cristo Redentor, está com falta de banheiros adaptados, e a acessibilidade está direcionada exclusivamente ao cadeirante, excluindo os cegos e os surdos de infraestrutura adequada.

Ir à praia (como já mencionado) também é um problema para quem tem deficiência ou baixa mobilidade, pois os acessos apresentam diversos obstáculos:

– os sinais sonoros inexistem ou estão quebrados e muitas obras bloqueiam o caminho do cadeirante, além de partes do piso tátil terem sido retiradas.

Perguntas às vezes não são bem-vindas e, na realidade, alguns estão pedindo para não ser questionados…

…mas como defendo com firmeza minhas informações, lá vão algumas:

– Será que os táxis e ônibus apresentam facilidades para o transporte de cadeirantes?

– E os restaurantes? Já adotaram seus “menus” com letras em alto-relevo, para facilitar a leitura por clientes que necessitam deste item?

E assim, adicionando uma pitada de observação cabe aqui dizer que a “acessibilidade” não é só para pessoas com deficiência…ela deve ser boa para todos.

OBS: Segundo Antonio José Ferreira, secretário nacional de Promoção dos Direitos da Pessoa com Deficiência da SDH, “Uma população que envelhece necessita de obras com acessibilidade”.

Também é importante que saibamos que a “acessibilidade” não é somente arquitetônica, “ela” é também atitudinal…e que sem isso ela não será plena.

Outro mistério que persiste é:

– Estarão os responsáveis por receber os atletas “Paraolímpicos”, capacitados para a tarefa de compartilhar e conviver nos espaços com estes atletas de forma direta e efetiva? (Ou isto será um enigma cuja solução só será revelada aos iniciados?)

Particularmente penso que a “Paralimpíada” além das disputas esportivas têm de deixar algo de “valor” para toda a sociedade brasileira…deve obrigatoriamente deixar o “legado” da conscientização de “saber conviver” com as diferenças.

Todo o cidadão espera que a sociedade amplie seu conceito sobre a “acessibilidade urbana”…então que “ele” não pense, que “ela” seja somente para pessoas deficientes…devemos assumir que “acessibilidade” também se destina para pessoas com necessidades especiais, tal como crianças, idosos, grávidas, pessoas machucadas com alguma dificuldade de locomoção (que usam muletas ou cadeira de rodas momentaneamente).

Já há conscientização, de que as cidades não são de forma exclusiva, o resultado do desconhecimento dos homens públicos, da ganância individualista destes, e da “falta do saber” dos empresários…saiba que, mesmo sem tomar conhecimento, o “cidadão” trabalha em conjunto com os governantes…e assim como “eles” é responsável por determinados desastres urbanos.

Existem cidades que apresentam uma “mobilidade urbana” horrorosa, por vezes até denominada de “a mobilidade do descaso” (e isso é em todos os sentidos).

Então, desejo que a “empreitada da Paralimpíada” não esteja fadada à catástrofe…(E digo isso na expectativa, que os projetos de “acessibilidade” sigam o caminho de alguns pequenos êxitos iniciais já conseguidos)…mas, mesmo assim, ficamos apreensivos, pois sempre há coisas mais importantes, do que aquela que está visível à primeira vista.

Sabemos que o “desleixo” dos que se dizem “responsáveis sociais”, não impressiona mais ninguém…e que também não é “incomum” vê-los pulando de um lado para o outro, muitas das vezes aplicando o famigerado “otimismo exagerado”.

O inevitável é que em algum momento, “todos” precisaremos cruzar o deserto do “descaso”, (mesmo que tenhamos pouca atração por esse cenário)…e, como no “beco sem saída”, que saibamos estar atentos a estes questionamentos que tocam silenciosamente (sem que às vezes o saibamos), em perguntas vitais que obrigatoriamente deveríamos estar fazendo no cotidiano.

Então, apesar desta cáustica e aparente oposição, desejo que os jogos “Paralímpicos”, vençam a inconformidade do atual momento e que possam ocorrer assentados sobre o sólido cimento da esperança de uma sociedade mais “atuante” e de um “profissionalismo gestor” genuinamente verdadeiro.

Fonte: http://portaldotransito.com.br/

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Vera Garcia

Paulista, pedagoga e blogueira. Amputada do membro superior direito devido a um acidente na infância.

One thought on “Jogos Paralímpicos-Rio 2016: um teste olímpico para a “acessibilidade” brasileira

  • Edimilson Ferreira

    Acho uma falta de respeito para com nossos guerreiros o que a mídia faz, ou melhor, o que a mídia não faz. Enquanto as olimpíadas é feita de atletas com corpos perfeitos e é bem valorizadas e bem divulgadas pela mídia, os nossos guerreiros de verdade não recebem nenhuma valorização. São esquecidos. O mais interessante disso tudo é que eles são os que ganham mais medalhas. Falta de respeito de um país que quer ser um país da inclusão.

    Resposta

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